Artigos de Jornal
Os Chineses e o curto-circuito do recôncavo
A primeira vez que fui ao Rio, ainda criança, me espantei com triciclos entre
os carros e meu pai me disse que eram de lavanderias de chineses. Depois os
chineses passaram a ser sinônimos de restaurantes baratos, no Campo da Pólvora e
no Cabeça. Hoje a China é uma potência e tempo e dinheiro para eles é coisa de
somenos. Por isso não ligam para as declarações do capitão. Querem transformar
duas obras na Bahia em portfolio para vender sua engenharia bilionária para a
América Latina, sem consumir nada no local. Sabem que o pedágio da ponte e a
passagem do monotrilho não pagarão os investimentos, mas abrem mercados.
Neste jornal mostrei que havia solução melhor: uma envolvente rodoferrovia de
alta velocidade chegando até um hub-port em Salinas, com 23m de calado, que
poderia ser o terminal da ferrovia transcontinental, e uma pequena ponte de
acesso à Itaparica. Mas os mercadores chineses venceram. O Recôncavo sofrerá
literalmente um curto-circuito. Salvador será invadida por 140 mil veículos/dia
que se destinam ao Porto de Aratu, Litoral Norte, Aeroporto e Sergipe. Suas
redes de saúde, educação e abastecimento serão sobrecarregadas pelas demandas de
16 municípios do oeste da BTS. A Estrada do Coco, acesso a Lauro, Camaçari, Mata
e Dias D’Ávila ficará mais congestionada com os caminhões e carros que irão para
o Copec, Ford, praias e Aracaju. As cidades históricas turísticas e as praias do
Recôncavo serão mais marginalizadas.
Serviços e talentos do oeste da BTS serão sugados pelo campo gravitacional de
Salvador. Ninguém irá se internar em hospital, fazer cursos ou se abastecer em
estabelecimentos locais. Valença, Nazaré, S. Antônio de Jesus, Cruz das Almas e
Feira só têm a perder. O Estaleiro da Enseada perderá competividade não podendo
construir ou reformar plataformas de petróleo, com a altura da ponte reduzida
para 85 m. Maragogipe, São Roque e Salinas perderão empregos e impostos. Vera
Cruz se converterá em um favelão e entreposto de caminhões como São Gonçalo,
junto a Niterói, que perdeu para a Barra a expansão do Rio. Engana-se o governo
que a ponte irá trazer a soja e os minérios do Oeste. Nosso porto não processa
graneis e o de Aratu está saturado. A ponte será só rodoviária e os caminhões
não competirão com o trem da Fiol.
O monotrilho, maquiado de VLT, é outra obra polêmica. Não é compatível com o
metrô, beirando a baia servirá a um só lado da cidade, e a violenta com estações
aéreas e pilares a cada 30 m. Ele vai matar a estação da Calçada, que no futuro
poderia servir a trens como o TGV. Em qualquer cidade, as estações ferroviária e
rodoviária ficam no centro da cidade. Em Salvador elas ficarão em outros
municípios, para desconforto nosso e lucro imobiliário. Srs. Prefeitos, abram os
olhos! Curto-circuito provoca apagão.
SSA: A Tarde de 7/4/2019