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A Terceira Via não conseguiu se afirmar, como muitos esperavam, nessa eleição. Surpreendeu também a abstenção de 21%, num país onde ela não é livre, indicando uma descrença no sistema de representação política. Como vem ocorrendo numa Europa empobrecida, 51 milhões de brasileiros saíram do armário e votaram na extrema-direita. Se não houvesse partidos de esquerda bem estruturados e um líder carismático, a extrema-direita teria dado uma lavagem no primeiro turno e liquidado o processo político.

O mapa das eleições, pintado de vermelho e azul, indica que o país aprofundou sua divisão. O Oeste e o Sul Maravilha ricos, industriais, separatistas e de imigrantes xenófobos empunham a bandeira do autoritarismo. A outra metade do país, o Norte e o Nordeste pobres, luta por um lugar ao sol e desfralda a bandeira da inclusão social.

Esta situação não pode ser explicada apenas pela expansão das igrejas evangélicas, da lulofobia e da ideologia da segurança nacional, é muito mais complexa. Não cabe neste momento tentar decifrar a esfinge da extrema-direita que é um monstro que traz morte e destruição por onde passa e é filha de outro monstro, a quimera, que gerou o mito. É hora das forças democráticas unirem-se para defender a nação.

As pesquisas eleitorais também provocaram algumas surpresas no confronto com os resultados das urnas. A principal delas nas hostes do candidato da extrema-direita. Para os diretores do Datafolha e do Ipec, a antecipação do segundo turno das eleições pelos indecisos favoreceu Bolsonaro. É paradoxal e ridículo que ele, através de sua liderança na Câmara, ameace criar uma lei criminalizando os diretores dos institutos que errarem no comportamento de última hora do eleitorado.

Os resultados das eleições mostraram a radicalização do Congresso. O PL fez as maiores bancadas na Câmara e no Senado, mas os partidos de centro-esquerda, que ocupam a segunda posição, também cresceram. A FE Brasil, que inclui o PT, PV e PC do B, passou de 68 para 80 deputados e o PSOL elegeu 14 deputados. O Coordenador do MTST, Guilherme Boulos, foi o deputado mais votado no maior colégio eleitoral do país, São Paulo, com um milhão de votos.

A democracia ganhou o primeiro round, mas a batalha do segundo turno ainda não foi ganha. Eles têm a máquina, o orçamento secreto e a chave do cofre. Se você não pode votar agora na Terceira Via ou não votou no primeiro turno por qualquer razão, este é o momento de apostar no processo político. Você pode não gostar do ganhador do primeiro turno, mas não pode abdicar da responsabilidade de protestar contra a fome e o desemprego que assolam o país, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, e o linchamento xenofóbico de nordestinos, indígenas e quilombolas classificados de analfabetos e burros que comem capim.