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O preço da omissão e do medo

  • 27 de Novembro de 2022

O Tribunal de Nuremberg, no final da II Guerra, firmou o conceito de crime contra a humanidade, devido ao holocausto de seis milhões de judeus e de incontáveis ciganos, negros e homossexuais em toda a Europa. Essas comunidades eram submetidas a trabalhos forçados, internadas em campos de concentração onde passavam fome e frio e eram mortas em câmaras de gás. Mas 10 de seus responsáveis foram condenados à morte e dois se suicidaram na prisão em Nuremberg.

Entre as décadas de 1960 e 1980, durante a Guerra Fria, ditaduras militares deflagradas pelos EUA com ameaças de invasões, Marchas da Família com Deus pela Liberdade, Operação Condor e o apoio das burguesias locais tomaram o poder no Brasil (1964-1985), Chile (1973-1988), Uruguay (1973-1980) e Argentina (1974-1983). Milhares de pessoas foram submetidas a torturas em paus-de-arara, com choques elétricos, afogamentos, asfixia com sacos de plástico na cabeça, estupros e mortes nesses países. As vítimas não eram apenas um punhado de guerrilheiros, senão numerosos jornalistas, políticos, professores, estudantes e intelectuais que se manifestavam a favor da democracia. Outros milhares tiveram de fugir para a Europa para não serem torturados e mortos.

A mais longa dessas ditaduras ocorreu no Brasil e durou 21 anos. A mais sangrenta ocorreu na Argentina, onde 30.000 pessoas foram mortas ou desapareceram em nove anos, segundo as Mães da Praça de Maio. Aviões militares jogavam em alto mar presos políticos vivos, enquanto seus filhos eram sorteados entre casais de militares estéreis. Os militares argentinos deixaram o poder depois da derrota nas ilhas Malvinas, onde morreram milhares de soldados. Antes de deixarem o poder eles aprovaram a lei de autoanistia de 1983, que foi anulada pelo governo de Alfonsín, que julgou e condenou à prisão perpétua dez deles, muito poucos diante dos crimes hediondos que a ditadura cometeu.

Para conhecerem os detalhes desse julgamento histórico vejam o filme Argentina 1985, da Amazon Prime, forte candidato ao Oscar de filme estrangeiro de 2023. No Brasil os militares fizeram o mesmo em 1979, mas Sarney se acovardou e ninguém foi julgado. Chaga que continua aberta e permitiu a um tenente expulso da corporação por indisciplina se eleger presidente dando vivas ao coronel Brilhante Ustra, o torturador-mor do regime militar.  

Na falta de uma condenação justa pelos crimes que cometeram, velhos fascistas e uma geração nova que não conheceu os horrores da ditadura continuam a pedir a volta dos militares e o fechamento do STF em frente a quartéis do Exército, ao tempo que bloqueiam estradas, por não acreditarem em eleições livres, só em golpes militares. É neste ambiente de beligerância e com o espólio econômico deixado pelo atual desgoverno que o novo presidente terá que tentar reconstruir, em quatro anos, o país destruído.

 


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