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A mansa manada algorítmica

  • 10 de Dezembro de 2023

Sorrateiramente estamos todos sendo controlados na escola, no trabalho, no consumo, nas artes, no lazer e nas relações afetivas pelo Senhores dos Algoritmos, os Big-Techs globais. Sou um analfadigital convencido, como o personagem do filme Eu, Daniel Blake, que revoltado com a burocracia do serviço de saúde inglês andava grafitando seu nome nos muros, pois não queria ser apenas um login e uma senha. Acabou morrendo numa agência do SUS inglês porque o coração não esperou que ele terminasse o curso de internet que foi obrigado a fazer para poder pedir a aposentadoria.

Quero conversar com pessoas, mas elas estão todas hipnotizadas por seus celulares, nos consultórios médicos, nas agências de banco e de serviços públicos, nos restaurantes. É até perigoso tentar conversar com essas pessoas, pois se for mulher posso ser acusado de assédio sexual e se for homem posso ser confundido com um assaltante.

Na internet não posso acreditar nem no que vejo, quanto mais no que leio e ouço. Não dialogo nas redes sociais, nem respondo mensagem da internet que já vem com as respostas prontas, e do zap, com imogis. Há casos hilários e dramáticos de pessoas que se apaixonaram por avatares e entraram em depressão quando foram abandonadas por eles. Como posso confiar na internet que em consultas me pergunta se eu sou um robô.

Não sou daquelas pessoas entusiastas do G5, que sonham ter um carro Tesla, que o conduz à revelia, passando por áreas perigosas, pois aquele é o caminho mais curto e econômico e Elon Musk é um gênio. Ou da Inteligência Artificial, IA, infalível, que vai aliviar o povo de pensar. Será que ninguém percebe que a IA é uma quimera, como diz o cientista Miguel Nicolelis, que não cria nada, é apenas a moda estatística dos lugares comuns e do plágio manipuladas pelas trilionárias Big-Techs, que prometem uma utopia para impor a distopia?

Quero voltar a receber cartões de Natal de amigos que há muito não tinha notícia. Quero me relacionar com pessoas inteligentes, jogar conversa fora, rir e contar piadas e não apenas ser linkado por algoritmos que devassam minha privacidade e querem me empurrar serviços e produtos que não preciso.

Estamos todos fadados a ser Forrest Gump, aquele jovem abilolado do filme homônimo de 1994, sentado num ponto de ônibus no Alabama querendo se relacionar com outras pessoas que nem lhe ligam. Alienado, ele sonha ter sido condecorado por Nixon e abraçado por Elvis Presley.

Prefiro ser humano, com todos meus defeitos e inseguranças, que ser um robô teleguiado para honra e glória da indústria consumista e do estado pseudodemocrático. Os que aceitam passivamente a manipulação dos algoritmos são alienados e não sabem, mas povo marcado é gado feliz, como diz Zé Ramalho. Abaixo a coisificação humana digital!


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