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Presépios, Papai Noel e o consumismo

  • 23 de Dezembro de 2024

Antigamente, o Natal era basicamente o presépio, cuja ornamentação era uma diversão para as crianças, com imagens de santos e animais de todo tamanho, sem nenhuma hierarquia. Lá em casa, minha mãe fazia uma gruta com ramos de pitangueira da roça e meu pai a vila de Belém com papel de saco de cimento, da reforma da casa que nunca acabava com o nascimento de mais um dos oito filhos. A Família Sagrada era de biscuit, herdada de minha bisavó, mas os animais eram de cerâmica popular comprada na feira de Alagoinhas, onde passamos uma féria.

O presépio é uma tradição tipicamente italiana, supostamente criado por São Francisco de Assis, em 1223, aquele poeta que falava com os pássaros, o sol e a lua, na vila de Greccio, para mostrar aos lavradores o nascimento de Jesus. Tinha um encanto os presépios de antigamente.  

Famosos eram os presépios napolitanos, com milhares de figurantes de escultores famosos, que viraram atrações de museus locais. O imigrante italiano, Ciccilo Matarazzo, que enricou no Brasil, importou em 1949 um desses presépios com 1.600 figurantes, do século XVIII. Presépio que rodou por muitos endereços paulistanos, inclusive um galpão de sua metalúrgica, e finalmente descansou no Mosteiro da Luz, sede do Museu de Arte Sacra de São Paulo, onde pode ser visto depois de restaurado.

Naquele tempo não havia campos gelados de pinheiros, trenós voadores e Papai Noel, ou melhor Santa Claus, vestido de vermelho e touca de arminho, bebendo Coca Cola, que só devia ser ingerida estupidamente gelada. Santa Claus entrava pelas supostas chaminés das lareiras das nossas casas nordestinas, em pleno verão, para oferecer Coca Cola bem gelada.

O ritual de Natal compreendia a visitação dos presépios dos parentes e os dos conventos, abertos ao público, e a Missa do Galo. Só conheci uma casa privada que abria seu presépio para apreciação do público. Era a casa da família italiana Magnavita, na Lapa, esquina da Av. Joana Angélica com a rua 24 de Fevereiro, que formava com a Rua Coqueiros da Piedade um quarteirão famoso que compreendia a antiga Faculdade de Direito.

O presépio dos Magnavita era surrealista, conciliava o nascimento de Jesus, há 2.000 anos, com helicópteros e trenzinhos elétricos funcionando. Mas quando o colega Pasqualino Magnavita aderiu à Desconstrução, de Jacques Derrida, acabou o presépio e a Prefeitura mandou cortar os coqueiros e as árvores.

O Natal virou a festa de Baco e do consumo. Hoje quando vou aos shoppings não sinto o clima do Natal de antigamente, só vejo pinheiros em campos gelados, neve de algodão caindo do céu e um velho Papai Noel com um saco de presentes vazios nas costas, induzindo as crianças a pedirem aos seus pais: comprem mais!... comprem mais!... (- Todo o ano o mesmo saco, para ganhar uma pataca).  

Boas Festas a todos e todas!


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