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Voce já foi a Bahia> Não, então vá... Correndo

  • 21 de Junho de 2015

Em “Delicias do mundo civilizado”, A Tarde 13/06/2015, o Prof. Luiz Mott exalta a qualidade dos serviços das cidades europeias: transportes públicos, calçadas, segurança urbana, visitas guiadas a monumentos, concertos gratuitos em igrejas e respeito pelo silencio observada em viagem a Madrid, Roma e Paris. Qualidade de vida citadina que pode ser resumida na palavra urbanidade. Sutilmente Mott expõe uma alteridade para mostrar que não somos civilizados. De fato, quando comparamos aquelas cidades com a nossa Salvadolores com ruas alagadas nas chuvas, ônibus com chassis de caminhão e torniquete, passeios esburacados, lixo pelas sarjetas, assaltos e execuções sumárias, monumentos escorados, muvuca e shows ao som de 120 decibéis que estremecem até surdos chegamos à conclusão que deixamos de ser civilizados. Perdemos a urbanidade cantada por Caymmi, Jorge Amado e Ari Barroso.

Fiquei pensando, deve ser resultado da combinação da pressão do tríplice cartel da especulação imobiliária, dos buzus e do lixo com a pouca educação de nossos excluídos sociais. Mas refletindo melhor pensei, naquelas cidades europeias têm máfias mais poderosas que as brasileiras e imigrantes tão mal-educados quanto os nossos excluídos. Tampouco Marx conseguiria explicar. Aqui como lá vivemos sob o mesmo capitalismo monopolista. Deve haver alguma explicação que não consigo captar. Mas há em nossa cidade uma prática de ereções precoces de concreto armado que nem Freud explica.

Não se fazem mais avenidas térreas que dialogam com o cidadão, como a Oceânica, a Centenário e o Corredor da Vitória, senão vias elevadas que segregam, sem arborização, vedadas a pedestres e ciclistas. A chamada Via Expressa é um estrupo urbano. Onde bastava um túnel foram feitos quatro e os edis prometem mais dois se a ponte Gabrielli for algum dia construída. Antonio Carlos Magalhães reformou pela metade Salvador, mas fez vias com canteiros centrais generosos. Estes canteiros serão destruídos em breve por obras públicas que poderiam ser menos impactantes e respeitosas da beleza local e tolerância de nosso povo.

Eu e colegas arquitetos e engenheiros temos sugerido alternativas para estas obras, que as autoridades não ouvem. Mas ficarão advertências previas registradas nos jornais. Fazemos urbanismo de resistência, como diz o Prof. Heliodório Sampaio, e a cabeça de muita gente, inclusive do governo. Vi recentemente nos jornais a maquete de uma das estações de transbordo que será construída na Paralela. É uma caixa de sapatos gigante. Em nenhuma cidade do mundo se permitiria construir uma coisa tão monstruosa numa área verde.

Sintomaticamente, na noite seguinte à leitura do artigo de Mott tive um pesadelo. Vi um trem passando no Champ Elysees em Paris, a construção de um “complexo viário” em dois níveis no Times Square e o recobrimento de canais de Amsterdam para instalação do BRT. Numa mesa redonda na TV os prefeitos daquelas cidades acompanhados de empreiteiros brasileiros diziam que eram obras padrão FIFA, que iriam facilitar o trafego e criar milhares de empregos. Acordei atordoado, olhei pela janela e me dei conta que estava na Bahia de Otavio Mangabeira.

SSA: A Tarde, 21/06/15


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