Artigos de Jornal
A arte urbana de Juarez
Ingressei na UFBA pela Escola de Belas Artes, no Tijolo, e saí pela Faculdade
de Arquitetura, na Vitória. Essa convivência de arquitetos e artistas plásticos
foi muito rica. Muitos colegas se transformaram em pintores diletantes, como
Mendez y Mendez, Amélio Amorim, Quico, Rubico e Gilberbert Chaves. Mas poucos
pintores se interessaram pela arquitetura.
Um caso especial é o de Juarez Paraiso, o mais importante artista plástico,
fotógrafo, professor e produtor cultural de sua geração. Além de recriar igrejas
barrocas em telas e gravuras, Juarez se transformou no artista com mais obras
integradas à arquitetura e aos espaços urbanos. Paraiso fez imensos murais em
relevo a céu aberto, calçadas em pedra portuguesa e esculturas em espaços
públicos. Fez também decorações de carnaval nas ruas da cidade, quando a
prefeitura patrocinava a arte urbana. Caribé e Mário Cravo também fizeram
murais, mas no interior de edificações.
Dentre seus murais urbanos destaco o da Secretaria da Agricultura, no CAB, com
180 m², o tridimensional do Parque Pituaçu, o do Museu Geológico, na Vitoria,
confeccionado com rochas coloridas do estado, o do Ed. Monsenhor Marques, na
praça da Vitória, o da escadaria de articulação do Campo Grande com a Av. de
Contorno, o do hospital de Irmã Dulce e o do Núcleo de Arte Contemporânea, de
João Pessoa. Nessas obras ele enfatiza a função educativa da arte, como Anísio
Teixeira, e denuncia, como Rivera, Siqueiros e Orozco, as injustiças sociais.
Esculturas suas ornam espaços públicos como a Sereia de Interlagos, os totens do
Parque de Exposições e do Abaeté e o bronze de Vinicius de Morais na tarde de
Itapoã, realizado com Márcia Magno.
Um dos pontos altos da arte urbana luso-brasileira são as calçadas de mosaico
português. Belém e o Rio ostentam belas calçadas de Burle Marx. Salvador também
já teve as suas, de Paraiso, na praça da Sé e em ruas do centro e da Barra. Numa
sociedade que cada vez valoriza menos a cultura, a obra de Juarez vem sendo
destruída sistematicamente, como ocorreu com suas calçadas, ou abandonadas, como
o mural da Secretaria de Agricultura e os totens do Parque de Exposições e do
Abaeté, ou resistem às ervas e liquens no Museu Geológico. Igrejas pentecostais
destruíram, criminosamente, seus murais nos cinemas Tupy I e II, no Aquidabã;
Bahia, na Carlos Gomes; e Art I e II, no Politeama.
Uma exceção é a atitude de um empresário sensível, e por isso tido como
excêntrico, de conservar o jardim do Paraiso, com diáfanas libélulas,
borboletas, pássaros, e flores que levitam sobre belos mosaicos portugueses para
alivio dos enfermos do Hospital Aliança. A arte de Juarez é pública e não pode
ser reduzida à memória em fotos e em livros na estante. Por que não se fazem
mais murais e concursos para decoração da cidade?
SSA: A Tarde, 25/03/18