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Esmiuçando a ponte

  • 11 de Dezembro de 2022

Esmiuçando a ponte
Paulo Ormindo de Azevedo

A Academia de Engenharia da Bahia, presidida pelo Eng. Antônio Laranjeiras, um patrimônio da engenharia baiana, em sessão plenária em live aberta, de 30/11, colocou em discussão o bem fundamentado relatório Ligação Salvador- Itaparica: reflexões, sugestões e contribuições, de autoria dos acadêmicos Luiz Roberto Chagas, relator, Claudemiro Santos Jr, Durval Olivieri e Sergio Faria.

O relator declarou que não iria avaliar o projeto discutível de construção da ponte, senão o seu traçado e impactos viário, náutico e paisagístico sobre Salvador e a Baia de Todos os Santos. A comissão não se restringiu à crítica isenta, como a incapacidade da Via Expressa de absorver o fluxo de veículos da ponte, e apresentou três alternativas de traçado, devidamente orçadas, que poderiam mitigar seus impactos sobre a cidade e a BTS, sinalizando soluções urbanísticas para Salvador através de seus acessos.

As trajetórias propostas retificam a ponte em gancho e a recua para dentro da baía, salvando a bela visão da cidade e do porto e preservando a zona de escape para os navios que se destinam a Salvador, durante tempestades. Apenas uma proposta, aquela situada após a Enseada do Cabrito, teria uma extensão ligeiramente maior que a da ponte oficial. Uma, inclusive, seria menor e mais barata. As três soluções articulam a ponte diretamente com a BR 324 e a Via Metropolitana fora da cidade.

Um dos presentes perguntou se a ponte permitiria a articulação ferroviária de Salvador e seu porto e a reabilitação do estaleiro de São Roque de plataformas de petróleo. A resposta foi negativa. Outra pergunta questionou a articulação da ilha com o continente ligada apenas pela ponte do Funil de duas faixas. Na atual etapa, a ponte é apenas um substituto do ferry-boat domingueiro e não entrou na agenda da sucessão estadual.

Enfatizei que não se fazem mais pontes em entradas de baías e canais de navegação e que o acesso a Itaparica poderia ser feito por um arco rodoferroviário costeiro funcionando como metrô de dia e de carga à noite. Defendi uma versão atualizada do projeto do Eng. Vasco Neto com um hubport em Salinas da Margarida como terminal de uma ferrovia transcontinental de integração das redes ferroviárias do Chile, Peru, Bolívia, Brasil e Paraguai, com saída para dois oceanos.

Ficou evidente que o projeto do consórcio chinês não foi devidamente discutido com a comunidade técnica e a cidadania criando uma ponte em forma de anzol, que sitia a península de Itapagipe para ingressar na cidade no seu centro mais congestionado. O representante do consórcio afirmou que todas aquelas questões foram analisadas por empresas especializadas, mas que estava aberto à discussão. Ora, as consultorias defendem apenas os interesses de quem as contrata. Lembrei-me de uma piada portuguesa:
- Meu filho, você pode casar com quem quiser desde que seja com a Maria!

SSA: A Tarde de 11/12/2022


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