Artigos de Jornal
A ferrugem ataca a historia de Savador
Duas matérias jornalísticas recentes me chamaram a atenção. A primeira foi a entrevista de Bob Fernandes a Mário Kertész, em que ele começa perguntando: Qual é o projeto para Salvador que há décadas é o campeão do desemprego? É apenas a construção imobiliária? E chamava a atenção para o diferencial histórico e cultural de Salvador e do Recôncavo. Mas as autoridades só valorizam a festa e o turismo. Pergunta: Como é possível que o primeiro palácio de governo do país seja transformado em hotel?
Há pelo menos 50 anos Salvador não tem um projeto. Os PDDUs são apenas a conciliação dos interesses imobiliários com o do município em arrecadar mais, como se a cidade não fosse um porto, um grande centro de serviços de saúde e a população não contasse. O encolhimento da cidade será apenas pela diminuição da natalidade?
Em A Tarde do dia 22 passado, Clarindo Silva, no Espaço do Leitor, pergunta: “Que Centro Histórico é esse? Não adianta perpetuar ruínas com escoramentos metálicos que o tempo corrói e o que foi colocado para proteger transforma-se numa verdadeira ameaça [...] Acompanhei a volta da Cabocla e quando passei na Soledade, Largo da Lapinha, tomei um susto! Parece que aquele lugar sofreu um bombardeio. Volto aqui ao Pelourinho, a Ladeira do Ferrão tem quase que 100% das casas fechadas, mas continuo sendo daqueles que dizem que a esperança nunca morre”.
Clarindo se referia a uma reunião realizada no dia 11 anterior em que foi anunciada criação do Distrito Cultural e o Fórum Permanente do Distrito Histórico e Comércio. Compreendo a revolta e a esperança vacilante do amigo, que em 52 anos no Revicentro viu as inúmeras iniciativas equivocadas do Estado transformarem o Pelourinho num cenário despovoado para turistas.
A prefeitura a partir da administração passada tem adotado algumas iniciativas positivas, como a instalação de secretarias no Comércio e criação do Museu Carnaval e da Casa da Música. Mas será que isso só vai repovoar o Centro Antigo? Em relatório de 2019 para a FMLF/UNESCO recomendei a criação de um projeto do tipo Minha Casa Minha Vida para viabilizar a sua revitalização. Isto poderia criar 14 mil habitações nos 1300 sobrados em ruínas ou periclitantes e imóveis da Conder e do IPAC no CH para a população que lhe dá vida. Propunha também passarelas ligando o Pelourinho à Av, Joana Angélica e o Carmo à Saúde para facilitar seu acesso.
Para o Comércio, propus a abertura para o mar, como fizeram NY, Londres, B. Ayres e o Rio, incentivos fiscais para a transformação de edifícios de escritório em habitacionais e criação de infraestrutura de educação, saúde e lazer. Das minhas propostas apenas a articulação do Pelourinho e do Comércio ao metrô por um túnel está sendo estudada. Só o repovoamento e a acessibilidade podem salvar nosso maior patrimônio.