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A orgia perpétua

  • 04 de Fevereiro de 2024

A ORGIA PERPÉTUA

Paulo Ormindo de Azevedo

Este é o título de um livro do peruano Vargas Llosa sobre Flaubert e Madame Bovary.  Aquela mulher, que devorava contos e romances românticos, idealizava um amor que não encontrou no casamento, nem nos dois amantes que teve escondido do marido, entra em depressão e se suicida. O que tem a ver o livro de Vargas Llosa com a realidade baiana? Aparentemente apenas o fato de Vargas Llosa ter estado na Bahia no final da década de 1970, percorrido o nosso sertão com Renato Ferraz, consultado o Prof. José Calazans, estudioso da obra de Euclides da Cunha, e escrito o festejado livro A guerra do fim do mundo inspirado na chacina de Canudos.

Vargas Llosa não voltou à Bahia atual, senão teria escrito A orgia perpétua II, sobre a folia (loucura no latim) interminável baiana, que é também uma busca desesperada da alegria e da felicidade em relações fugazes que acabam em cinzas. Apronta a tua fantasia/ alegra o teu olhar profundo/ que a vida dura só um dia, Luzia/ e não se leva nada desse mundo (J. Barros). O calendário baiano tem dez meses, só começa depois do carnaval dos camarotes milionários e blocos de abadás chics. O ano de 2024 começou com o Festival Virada Salvador (01/01), Pranchão (06/01), Ensaio da Timbalada (07/01), A Melhor Segunda (08/01), Baile da Santinha (12/01), Churrasquinho Menos é Mais (13/01), reprise do Baile da Santinha, Ensaio da Timbalada e A Melhor Segunda, entre 19 e 22/01, Festival de Verão (27-28/01), Festa de Iemanjá (02/02), Fuzuê (03/02), Furdunço (04/02) e deve prosseguir com a Melhor Segunda Pré-Carnaval (05/02), Habeas Copos (07/02), Carnaval (08-13/02), o Arrastão de Cinzas (14/02). Ressaca da Timbalada (18/02) e Pós-Carnaval. Ufa, quem aguenta tanta orgia?

Mas a folia continua em março com o Festival da Cidade, Salvador Cidade do Reggae em maio, Festas Juninas, Independência da Bahia e Salvador Jazz em julho, Arrocha Agosto, Parada Gay e Festival da Primavera em setembro, Salvador HipHop em novembro e o Carurú de Cosme e Damião em dezembro. Para preencher os interstícios, shows de cantores famosos, paredões e mafuás. Muitas dessas comemorações coincidem com datas religiosas do sincretismo afro-cristão e viram carnaval com barracas de largos e gastronomia típica. Podemos citar as celebrações do Senhor Bom Jesus dos Navegantes, a Lavagem da Ig. de Itapoã (01/01), as festas de N.S. da Conceição da Praia (08/01), Senhor do Bonfim (11/01), S. Lázaro (28/01), Iemanjá (02/02), S. João e S. Pedro (25 e 29/06), Cosme e Damião (27/09), Sta. Bárbara (04/12) e Sta. Luzia (13/12).

Toda essa orgia deve exaurir muitos foliões e criar um vazio que é preenchido pelo álcool e baseados, por não lhes proporcionar a sonhada felicidade amorosa, como acontecia com a Madame Bovary. Um bom tema para Vargas Llosa e para nós refletirmos.

SSA: A Tarde, 04/02/2024


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