Artigos de Jornal
A Grande e a Pequena Salvador
Na madrugada é mais visível. São centenas de ônibus e carros que levam e
trazem operários e diretores para fazerem funcionar o COPEC, o CIA, a Ford, a
Refinaria de Mataripe e o Temadre. Fico imaginando quanto custa esta frota
rodando e parada e quantas horas perdem seus funcionários diariamente dentro
destes veículos, expostos a acidentes. O custo Salvador tem muito a ver com a
falta de planejamento.
A Grande Salvador reúne 13 municípios, tem 4.375 km2, onde vivem quatro milhões
de habitantes e é responsável por metade do PIB do estado. A Pequena Salvador
tem 7,41% desta área, más é onde se concentra 81% da população da metrópole. Por
ai se pode compreender porque Salvador se transformou em um aglomerado de
espigões e favelões, que avança sobre seus últimos verdes. Isto explica também
sua pobreza estrutural. Toda atividade industrial está fora de Salvador e ela é
responsável por fornecer habitação, transporte, saneamento, saúde, educação,
cultura e lazer a cerca de 1,5 milhões de habitantes que geram riqueza e
impostos em benefícios de outros municípios. Só Camaçari tem um PIB de quase
metade do de Salvador e muito pouco custo com seu exercito de operários.
Por que tanta gente se submete a este sacrifício diário? Porque em municípios
como Camaçari, S. Francisco do Conde, Simões Filho e Candeias, onde estão as
indústrias, não existe conjuntos habitacionais, hospitais, hotéis, escolas,
cinema ou teatro de mínima qualidade. Não fomos capazes, como São Paulo, de
criar em torno da capital cidades como Campinas, São José dos Campos e Santos. O
que ocorreu aqui não foi por falta de recursos, foi por incapacidade de gestão
dos prefeitos locais, inclusive de Salvador, cabeça de região, e omissão do
Estado, que deveria planejar e desenvolver políticas metropolitanas de
integração.
A Região Metropolitana de Salvador, RMS, foi instituída em 1973 pelo governo
militar. A CONDER foi criada para planejar e infra-estruturar a região, mas
falhou e perdeu o foco, sendo transformada em uma empresa para fazer obras em
todo o Estado. A única tentativa de planejamento da RMS, o CIA, só se preocupou
com a indústria, visando os incentivos da SUDENE. Nenhuma atenção ao transporte,
habitação, saneamento, saúde, educação, cultura e turismo. Não se pode resolver
nenhum desses problemas dentro dos limites de cada município e partido, senão
com políticas de estado.
Precisamos criar redes de transporte ferroviário e saneamento básico para toda a
região, desenvolver uma agricultura voltada para o abastecimento alimentar,
criar um mercado de terras baratas para programas habitacionais e aparelhar as
cidades da RMS com serviços de qualidade. Visando o turismo, precisamos dar um
tratamento único a nossas praias e a orla da Baía de Todos os Santos. É na
solução desses problemas que está a chave para atrair grandes investimentos para
uma região privilegiada, com dois grandes portos, terrenos planos, praias
ensolaradas e uma baia navegável todo o ano e não destruindo a Mata Atlântica e
emparedando as nossas praias.
A questão institucional é um dos nós do problema metropolitano. Em muitas
capitais latino-americanas, além dos prefeitos municipais, há um prefeito
metropolitano eleito. Esta prefeitura é um degrau para atingir postos mais
elevados, como governos provinciais e a presidencia da republica. Seu titular
tem que mostrar eficiência e capacidade de articulação política numa previa para
vôos mais altos. Nossa constituição não prevê isto e o Estatuto da Cidade passou
ao largo da questão metropolitana. Resta a possibilidade de um grande consorcio
municipal, que já funciona com sucesso desde os anos 90 no interior de S. Paulo
e Paraná e começa a ser adotado na Bahia. Em muitos setores, o interior está
mais adiantado que a nossa metrópole.
Para discutir estas questões, os movimentos ”A Cidade Também é Nossa” e “Vozes
da Cidade”, com apoio da SEDUR e CREA-Ba, estão convocando a sociedade e
autoridades para o seminário “Salvador Metrópole”, a ser realizado no auditório
da FLEM entre 17 e 18 de novembro. Salvador precisa pensar grande.
SSA: A Tarde 18/10/09