Artigos de Jornal
Resgatando Rômulo Almeida
Imaginem uma cooperativa gigante com faturamento de R$154 bilhões que atua na
construção e gestão de portos, ferrovias, rodovias, aeroportos, redes de
saneamento, abastecimento, educação, saúde, lazer e cultura. Para que esta
empresa funcione sem conflitos e seja competitiva deveria ter quadros
qualificados e o controle de um conselho realmente representativo de seus 14,6
milhões de associados. Se essas condições não existirem, grande parte de seus
dividendos vai para o ralo, em detrimento dos pequenos associados.
Esta cooperativa se chama Estado da Bahia. Historicamente os governantes baianos
sempre foram avessos ao planejamento, porque achavam que ele limita o “toma lá
dá cá” politico. Mas há uma contradição. Sem mostrar resultados, o administrador
tem vida curta. Antonio Carlos Magalhães se projetou executando o plano
engavetado do Epucs, embora não propiciasse outros planos.
O planejamento sempre correu por fora do Estado. Mário Leal Ferreira era um
profissional liberal que propus a realização de um plano para Salvador e um
prefeito esclarecido o contratou. O porto, o Centro Industrial de Aratu e o Polo
Petroquímico foram propostas de Romulo Almeida cooptadas pelo Estado. Para
desenvolver esses projetos ele criou a Comissão de Planejamento Econômico. Mais
tarde, sem apoio do governo, criou a holding Clan para introduzir a siderurgia
na Bahia. A recente publicação de seu acervo técnico não foi uma iniciativa do
Estado, senão da FIEB.
Embora os governantes nunca valorizassem o planejamento, a Bahia já teve alguns
centros técnicos de excelência, como o Departamento de Estradas da Bahia, Derba,
que reunia os mais qualificados geólogos, engenheiros civis, estruturalistas e
arquitetos do estado e um avançado laboratório reconhecido nacionalmente. O
Derba possuía residências regionais que conservavam estradas e prevenia
acidentes naturais. Como não admitia intervenção política em soluções técnicas,
foi esvaziado e substituído pelo Consorcio Rodoviário, um lobby das
empreiteiras. Não vou falar da Conder, que não produziu grande coisa, porque se
submetia servilmente aos políticos e deixou de planejar na década de 90.
O governo federal tinha na Bahia centros de operação do Departamento Nacional de
Estradas de Rodagem e do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, que com a
onda neoliberal foram também esvaziados. Hoje o Governo Federal tem na província
apenas 300 engenheiros e o Estado menos ainda, segundo o assessor da Seplan,
Paulo Henrique de Almeida. O resultado deste desmonte é a lamentável situação do
semiárido baiano e o baixo nível das obras públicas entre nós, de que são
mostras a Ferrovia Leste Oeste, o metrô de Salvador, a buraqueira e o
desmoronamento das estradas, a desarticulação do viaduto e túnel da Soledade e a
macarronada do Abacaxi/Cabula, que piorou a transito ao nível do solo.
A partir de meado dos anos 80, planejamento virou palavra feia. Para a direita,
sinônimo de estatismo, para esquerda, tecnocracia. Com a derrubada do
autoritarismo, derrubaram de sobra o estado e deu no que deu: violência,
deterioração da vida urbana, abuso do poder econômico e crise de
governabilidade. A grita das ruas não é por vinde centavos, é pela participação,
representatividade, proficiência, serviços de qualidade e transparência. Temos
que compreender que as conquistas protagonizadas por Romulo Almeida. como a
criação da Petrobrás, da Chesf, do Banco do Nordeste e as já citadas na Bahia
tiveram uma base técnica robusta que não se logra com o aparelhamento e projetos
descolados da realidade.
Estamos perdendo competividade para estados como Minas, Rio e Pernambuco por não
termos nenhum centro de pensamento estratégico, como as fundações João Pinheiro,
Getúlio Vargas e Joaquim Nabuco. No inicio da atual administração os movimentos
“A Cidade Também é Nossa” e “Vozes de Salvador” propuseram ao Governador a
transformação da FLEM no Instituto Romulo Almeida com este perfil. Esta seria a
melhor homenagem do Governo da Bahia ao planejador e à inteligência baiana.
SSA: A Tarde, 22/07/13