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Resgatando Rômulo Almeida

  • 22 de Julho de 2013

Imaginem uma cooperativa gigante com faturamento de R$154 bilhões que atua na construção e gestão de portos, ferrovias, rodovias, aeroportos, redes de saneamento, abastecimento, educação, saúde, lazer e cultura. Para que esta empresa funcione sem conflitos e seja competitiva deveria ter quadros qualificados e o controle de um conselho realmente representativo de seus 14,6 milhões de associados. Se essas condições não existirem, grande parte de seus dividendos vai para o ralo, em detrimento dos pequenos associados.

Esta cooperativa se chama Estado da Bahia. Historicamente os governantes baianos sempre foram avessos ao planejamento, porque achavam que ele limita o “toma lá dá cá” politico. Mas há uma contradição. Sem mostrar resultados, o administrador tem vida curta. Antonio Carlos Magalhães se projetou executando o plano engavetado do Epucs, embora não propiciasse outros planos.

O planejamento sempre correu por fora do Estado. Mário Leal Ferreira era um profissional liberal que propus a realização de um plano para Salvador e um prefeito esclarecido o contratou. O porto, o Centro Industrial de Aratu e o Polo Petroquímico foram propostas de Romulo Almeida cooptadas pelo Estado. Para desenvolver esses projetos ele criou a Comissão de Planejamento Econômico. Mais tarde, sem apoio do governo, criou a holding Clan para introduzir a siderurgia na Bahia. A recente publicação de seu acervo técnico não foi uma iniciativa do Estado, senão da FIEB.

Embora os governantes nunca valorizassem o planejamento, a Bahia já teve alguns centros técnicos de excelência, como o Departamento de Estradas da Bahia, Derba, que reunia os mais qualificados geólogos, engenheiros civis, estruturalistas e arquitetos do estado e um avançado laboratório reconhecido nacionalmente. O Derba possuía residências regionais que conservavam estradas e prevenia acidentes naturais. Como não admitia intervenção política em soluções técnicas, foi esvaziado e substituído pelo Consorcio Rodoviário, um lobby das empreiteiras. Não vou falar da Conder, que não produziu grande coisa, porque se submetia servilmente aos políticos e deixou de planejar na década de 90.

O governo federal tinha na Bahia centros de operação do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem e do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, que com a onda neoliberal foram também esvaziados. Hoje o Governo Federal tem na província apenas 300 engenheiros e o Estado menos ainda, segundo o assessor da Seplan, Paulo Henrique de Almeida. O resultado deste desmonte é a lamentável situação do semiárido baiano e o baixo nível das obras públicas entre nós, de que são mostras a Ferrovia Leste Oeste, o metrô de Salvador, a buraqueira e o desmoronamento das estradas, a desarticulação do viaduto e túnel da Soledade e a macarronada do Abacaxi/Cabula, que piorou a transito ao nível do solo.

A partir de meado dos anos 80, planejamento virou palavra feia. Para a direita, sinônimo de estatismo, para esquerda, tecnocracia. Com a derrubada do autoritarismo, derrubaram de sobra o estado e deu no que deu: violência, deterioração da vida urbana, abuso do poder econômico e crise de governabilidade. A grita das ruas não é por vinde centavos, é pela participação, representatividade, proficiência, serviços de qualidade e transparência. Temos que compreender que as conquistas protagonizadas por Romulo Almeida. como a criação da Petrobrás, da Chesf, do Banco do Nordeste e as já citadas na Bahia tiveram uma base técnica robusta que não se logra com o aparelhamento e projetos descolados da realidade.

Estamos perdendo competividade para estados como Minas, Rio e Pernambuco por não termos nenhum centro de pensamento estratégico, como as fundações João Pinheiro, Getúlio Vargas e Joaquim Nabuco. No inicio da atual administração os movimentos “A Cidade Também é Nossa” e “Vozes de Salvador” propuseram ao Governador a transformação da FLEM no Instituto Romulo Almeida com este perfil. Esta seria a melhor homenagem do Governo da Bahia ao planejador e à inteligência baiana.

SSA: A Tarde, 22/07/13


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