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Um novo porto para alavancar o desenvolvimento da Bahia

  • 29 de Setembro de 2013

Por que Vitoria e Florianópolis têm as duas maiores rendas por capta do país e Cingapura, uma ilha pouco maior que Itaparica, é uma das maiores economias do mundo? A resposta é simples, pela atividade de seus portos. Nós baianos não temos sabido tirar partido da nossa maior dádiva geográfica, a Baia de Todos os Santos, o maior porto natural do Atlântico Sul. Angra de apoio na rota para o Oriente durante a Colônia, Salvador perdeu importância no século XIX devido ao lobby dos trapicheiros que sabotaram treze projetos de modernização do seu porto.

Só no inicio do século XX J.J. Seabra conseguiu enfrentá-los e criar um porto moderno para sua época. Mas 40 anos mais tarde ele já não atendia à nova logística marítima e precisou ser complementado, em 1950, pelo Temadre, em Madre de Deus, e pelo Porto de Aratu, em 1975. A produção agrícola baiana sai hoje pelo Espirito Santo e Pernambuco e o porto de Salvador é o 11º porto brasileiro. Com calados entre 9 e 14 m os portos de Salvador e de Aratu estão fadados a só operarem com cabotagem em poucos anos. No próximo ano, as novas comportas do canal do Panamá, com calado de 18,3 m., começarão levar e trazer supernavios para os nossos maiores parceiros comerciais do Pacífico. A Bahia poderá ficar à margem dessa rota. Nessa disputa levam vantagem o Espirito Santos, o Rio de Janeiro e o Ceará com os superportos de Tubarão, Ubu, Açu e Pecém.

Mas a Bahia poderá ter um porto melhor que esses em aguas abrigadas e posição privilegiada na costa brasileira, porta de saída da produção de grãos e minérios do Centro Oeste. Os portos de Salvador, Aratu e Sul não serão desativados, como outros de igual calado do país. Esse novo porto não competirá com eles, pois estará em outro patamar. Com ele poderemos criar um complexo industrial portuário semelhante ao Suape, em Pernambuco, que mudou a economia do estado.

Este novo porto contaria com articulação das novas ferrovias norte-sul e rodoviária com o norte, o oeste e o sul do estado. Ele seria com Tubarão, Ubu e Açu um dos quatro maiores portos brasileiros com calado de 21,0 m. Mas onde seria este porto? Peguem a carta náutica e verão. Em Salinas da Margarida, defronte do Canal de Itaparica, preservando a paisagem e a navegabilidade da Baia de Todos os Santos. Porto que teria baixo impacto ambiental porque seria construído em píer. Ele poderá receber os novos supernavíos do tipo Post-Panamax e Capesize. Seu retroporto e área industrial ficariam em planícies marinhas e tabuleiros costeiros daquele município com suprimento de agua de Pedra do Cavalo e energia de um parque eólico costeiro.

A articulação com os portos e polos industriais da Região Metropolitana de Salvador se faria pela Envolvente da Baia, um arco rodoferroviário que aproveitaria o leito da Estrada de Ferro Salvador-Cachoeira até Afligidos, em São Gonçalo dos Campos. Ali um ramal seguiria para Feira de Santana e Alagoinhas e outro para Santiago do Iguape onde cruzaria o Paraguaçu, à montante dos estaleiros de São Roque, seguindo pelo leito da antiga Estrada de Ferro de Nazaré até Castro Alves, articulando-se, assim, com a Ferrovia Centro-Atlântica e través dessa com a Fiol e a nova estrada de ferro Belo Horizonte-Recife. O superporto de Salinas poderá se transformar no grande porto do Nordeste.

Este arco rodoferroviário, por onde além de trens de carga correriam trens de passageiros expressos velozes, daria acesso a Itaparica e a estradas litorâneas já existentes, como a BA-878, em Santo Amaro e Saubara, e a BA-534, em Salinas da Margarida e Jaguaripe, permitindo a criação de um grande polo turístico-náutico e a recuperação de cidades históricas marginalizadas pelo rodoviarismo que se tenta ressuscitar. Este, sim, seria um projeto capaz de deflagrar um novo ciclo de desenvolvimento do estado pelos próximos 50 ou mais anos, a um baixo custo econômico e ambiental. Precisamos deixar de lado interesses corporativos e vaidades pessoais e unirmo-nos em um projeto de estado, de longa duração, como fizeram os cariocas, capixabas, pernambucanos e cearenses.

SSA: A Tarde, 29/09/13


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