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Qual o valor dos impostos municipais?
No Programa Fronteiras do Pensamento, Enrique Peñalosa, o prefeito que em
plena resseção revolucionou Bogotá ao restringir a circulação de carros, criar
300 kms de ciclovias e um dos maiores sistemas de BRT – bus rapid transit
mundiais, fez conferencias em algumas cidades brasileiras. A de Salvador ocorreu
em 1º/10/13 no Teatro Castro Alves. Peñalosa é fanático do sistema inventado
pelo Arq. Jaime Lerner, quando prefeito de Curitiba, no inicio dos anos 80, pelo
seu baixo custo, flexibilidade e capilaridade. Mas reconhece que Curitiba e
Bogotá estão construindo metrôs porque os BRTs só não dão conta.
Enquanto exalta o BRT, ele execra as autopistas, viadutos e passarelas, que
priorizam o carro, cortam e segregam o espaço urbano. Elas devem ser
transformadas em avenidas com arvores, passeios de 15 m. de largo e algumas
faixas de BRT, pois uma delas substitui 70 de carros. Para diminuir a circulação
de carros só há uma maneira: restringir os estacionamentos, como Manhattan e
Londres, que proíbe vagas em edifícios na área central, há 50 anos. Peñalosa não
disse nenhuma novidade, mas com a autoridade dos resultados que alcanço em
Bogotá, que o qualifica a pleitear a presidente da Colômbia, reforçou a posição
de técnicos baianos que há 30 anos dizem o mesmo e as autoridades fingem não
ouvir.
Apesar de defender o mercado, ele é favorável a desapropriação de vazios e
periferias para criação de parques e conter o esgarçamento da cidade. Embora
evitando falar de Salvador, seu discurso é antagônico às autopistas em
construção na cidade, como a Via Expressa, a Linha Viva, a Paralela, a ponte
rodo-imobiliária, o esgarçamento de Salvador até Itaparica e o metrô cercado. O
que se está fazendo hoje em Salvador não é nem as obras de modernização
conservadora dos anos 70, senão andar na contramão da historia.
O IPTU e o ISS não são apenas uma fonte de arrecadação (7%), são também
poderosos instrumentos de politica urbana. Como terceiro mercado imobiliário do
país, não podemos continuar na 24ª posição na arrecadação per capta de impostos
dentre as capitais. A prefeitura precisa de dinheiro para realizar obras
minimamente de conservação, embora muita coisa possa ser feita sem grandes
investimentos, como em Bogotá: ciclovias e faixas exclusivas para ônibus e
taxis.
Se se quer desencorajar a circulação de carros, como prega Peñalosa e foi
consenso no seminário sobre mobilidade promovido por A Tarde, em 28/08/13,
porque não cobrar IPTU sobre as garagens e varandas que representam mais de 50%
dos edifícios de apartamentos e escritórios. Há apartamentos com sete vagas de
garagem e varandas de 100 m² que não pagam IPTU sobre elas. O mesmo se diga das
taxas sobre alvarás de construção e habite-se. Estacionamentos em baldios e em
edifícios de escritórios, devem ter seus ISS aumentados exponencialmente para
desestimularem a circulação de carros nos centros e sub-centros da cidade.
Há muita evasão e renuncia de impostos. Durante seis anos a Setps não pagou ISS
deixando um rombo de R$100 milhões. Não se cobrou ISS das imobiliárias, da Arena
da Fifa e agora também do metrô, obras que criaram mais demandas de trafego.
Quando vou a Brasília, nos restaurantes me perguntam se quero nota fiscal com
CPF para descontar no IPTU. Durante o mandato de João Henrique não se cobrou
outorga onerosa sobre construções da Orla Marítima, ao arrepio da lei. Pergunto:
é cobrado o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis, inter-vivos - ITBI em
transações com transcon?
Precisamos acabar com essa farra de compensações milionárias de supostas
invasões que em muitos casos são apenas loteamentos clandestinos ou consentidos,
para transformação de débitos de IPTU em créditos de transcon. Há outros
instrumentos que podem aumentar a arrecadação sem onerar o IPTU da classe C,
como ampliação da área sujeita a outorga onerosa, operações urbanas consorciadas
e cobrança de contribuição de melhoria com um PDDU que não seja de faz de conta.
O dilema do atual prefeito é racionalizar a gestão urbana, como fez Peñalosa
enfrentando lobbies e carteis, ou morrer na praia, como o findo.
SSA: A Tarde, 13/10/13