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Dois eventos e uma esperança
Final de mandato é época de muitos eventos e renovadas esperanças. Dois
eventos que participei merecem registro. O primeiro foi o seminário “O novo
perfil das comunidades carentes” promovido pelo Instituto Romulo Almeida, IRAE,
na FIEB no dia 9 do mês passado. Este foi o quarto evento promovido pelo IRAE
comemorativo do centenário de nascimento de Romulo. A trajetória profissional e
política de Rômulo é bem conhecida e dispensa comentários. O instituto vem sendo
mantido a duras penas pela dedicação de familiares, como os irmãos Aristeu e
Gabriel e o sobrinho Flavio, e antigos colaboradores de Rômulo.
Esses foram marcos importantes para a preservação da memória do grande
economista, mas muito pouco tem sido feito pelo poder público para dar
continuidade a sua obra como planejador, desde a criação da Comissão de
Planejamento Econômico, em 1955, até a concretização do CIA e do COPEC. Ao
contrário da União, que conta com o Fundação Getúlio Vargas, e estados como
Minas Gerais e Pernambuco, que possuem as fundações João Pinheiro e Joaquim
Nabuco, a Bahia não possui nenhuma instituição capaz de formar quadros e
desenvolver uma teoria do seu desenvolvimento. Pernambuco e Ceará souberam ainda
atrair as sedes da CHESF, SUDENE, DENOCS e BNB que têm formado quadros altamente
qualificados. Por esta falha, talentos baianos têm que migrar para o Sudeste e
estados menores têm maior dinamismo que a Bahia. O melhor resgate deste débito
com a inteligência baiana seria o novo governo transformar a FLAM na Fundação
Romulo Almeida, uma escola de governo e planejamento.
O segundo evento, não menos importante, realizado no dia 29, deve ser creditado
ao último governo. Foi a doação pela Embasa à Secretaria de Desenvolvimento
Social de um naco de 11.000 m² do sítio do Queimado, sede da primeira empresa de
agua do país. No mesmo ato a secretaria fez a cessão da área por 20 anos à
orquestra Neojibá, sua subsidiária, para desenvolvimento de suas atividades de
inclusão social pela música. O projeto Neojibá é uma realização de outro baiano
notável, o maestro Ricardo Castro. Desde 2007, Ricardo, um festejado pianista de
prestigio internacional, lutava por um espaço para treinar suas 4.500 crianças e
jovens do sistema de orquestras juvenis do estado, que já excursionou com enorme
sucesso pela Europa e Estados Unidos.
Chegou quase a conseguir o auditório do ICEIA, mas na última hora a prefeitura
reprovou o projeto. Ricardo não lamentou, porque um consultor japonês de
acústica disse que para transformar aquele auditório em uma sala de concerto
seria necessário refazer o prédio. No parque do Queimado Ricardo poderá
construir do zero uma sala de concerto segundo os melhores princípios acústicos.
Mas como conseguir recursos para fazer a sala, já que ele só tem verba de
custeio e a Lei Rouanet não financia obras novas? Este é o desafio de Ricardo:
conseguir um patrocínio para consolidar e expandir seu projeto. A solenidade foi
simples mas significativa e os discursos amenizados pelos instrumentos e vozes
afinadas de jovens de um bairro chamado Estrada da Liberdade. A esperança é que
o novo governo transforme este codinome em realidade.
SSA: A Tarde de 04/01/2015