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Um Hubport em Salinas das Margaridas

  • 05 de Junho de 2015

Entre os séculos XVII e XIX a Baia de Todos os Santos foi um porto de apoio às rotas marítimas que ligavam a Europa à África e ao Oriente. No século passado ela perdeu esta condição para o Rio e Santos. Mas atualmente ela voltou a ter esta função. O grande número de cargueiros que ancoram em suas aguas buscam abrigo enquanto aguardam atracar em Santos, Paranaguá, Navegantes, Montevideo e Buenos Aires. Como no passado aqui eles se reabastecem de água, alimentos e combustível e fazem pequenos reparos.

Estamos vivento uma revolução na navegação com os contêineres e hub ports. Os grandes graneleiros e porta-contêineres atuais tem custo de operação muito alto e não podem fazer o pinga-pinga. Operam em grandes portos de captação e distribuição de cargas, os hub ports. Essas são depois levadas aos seus destinos finais por navios de cabotagem, trens e caminhões.

Pelo canal de Panamá só passavam, até há pouco, navios com 12m de calado e capacidade de 70.000 toneladas. Com essas limitações foi criado nos anos 80 um novo padrão de navios com capacidade de 150.000 a 175.000 toneladas para contornarem os cabos da Boa Esperança e Horn. A este novo padrão deu-se o nome de Capesize. Em 2009 o Canal de Suez foi dragado (20 m) permitindo a esses navios irem do Pacifico ao Atlântico sem contornar a África.

O Panamá está inaugurando uma nova eclusa bem maior que as antigas, com calado de 15,5 m. Por outro lado, com as mudanças climáticas, os chineses já começam a passar do Pacifico para o Atlântico pelo Ártico, com navios que podem chegar a 400.000 toneladas. A navegação no Atlântico Sul vai começar a ser feita por estes cargueiros gigantes. No pais só os portos em mar aberto de Tubarão (ES) e o de Açu, em construção no Rio, tem condições de receber estes navios. Mas Açu está parado com as crises da ABX e Petrobrás.

Surge assim a oportunidade da Baia de Todos os Santos ter um hub port com calado de 21m em Salinas da Margarida, no Canal de Itaparica, próximo aos estaleiros do Paraguaçu. Este hub port seria servido pela nova ligação ferroviária de Salvador com a estrada-de-ferro Centro-Atlântica que articularia o estado com o Sudeste, Nordeste e Oeste através da Fiol. Sem este empreendimento os portos da Bahia, com calado de 13m, estão fadados a se transformarem em portos apenas de cabotagem. Precisamos nos unir para aproveitar o privilégio de possuirmos o maior porto natural do Atlântico Sul. Se os cubanos conseguem do governo brasileiro a construção do hub port de Mariel, por que não conseguiremos o nosso?

SSA: Tribuna da Bahia, 05/06/2015


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