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As primeira lições da crise

  • 24 de Maio de 2015

As crises são encruzilhadas de mudanças e inovação. A atual promete muitas, pois é a um só tempo institucional, política, econômica e moral. Não dava para suportar mais o mormaço em que vivíamos. Os próximos anos serão duros, mas necessários. Muitas bolhas começam a estourar. A primeira é a explosão do falso regime presidencialista. Já estamos vivendo um parlamentarismo informal, porque não há uma vinculação orgânica entre legislativo e executivo, como nos EE.UU. Para a provação de qualquer medida provisória ou lei é preciso pagar pedágio aos parlamentares, com propina, liberação de verbas ou cargos. A reforma política não pode ser apenas do código eleitoral.

A segunda lição é a falência do sistema representativo, não só no Congresso e câmaras, como nos sindicatos e conselhos. Acordos firmados por sindicatos são rejeitados pela categoria e a greve continua. Com a internet ficou fácil mobilizar o povão, como temos visto em anos recentes no Brasil e no mundo. Algumas manifestações derrubaram governos. Ou os governos compartem com a sociedade as decisões ou as manifestações os desestabilizarão, como já vem ocorrendo.

Terceira lição. A operação Lava Jato demonstrou que o maior rombo da Petrobrás, R$ 54 bilhões, se deve ao superfaturamento dos contratos administrados pelo cartel das empreiteiras. O mesmo se repete nas grandes obras, como metrôs, ferrovias e rodovias. Não há projetos, concorrência nem fiscalização. É o rebanho de lobos no galinheiro. Por outro lado, as grandes empresas não pagam impostos e devem cerca de R$ 600 bilhões à União congelados (A Tarde, 12/05/15). Sua execução depende do Conselho de Administração de Recursos Fiscais, CARF, cuja vice-presidente é a advogada-chefe do Bradesco, maior devedor. Com a crise econômica este dinheiro tem que voltar aos cofres públicos ou o pais quebra. É urgente desprivatizar o estado para se restaurar o regime republicano.

Quarta lição, a lei de Gerson rege todas as ações do poder político e econômico, como ficou demonstrado com a Lava Jato. Os grandes fraudadores, como diretores da Petrobras e de grandes empreiteiras, branqueadores de dinheiro e políticos dão uma de “pecadoras arrependidas” para obter a absolvição. Uma das leiloeiras do Brasil, Noelma Kodama, em depoimento à CPI da Petrobrás deu aula de macroeconomia e insinuou a solução para a crise: “O Brasil é movido a corrupção... estamos (na fase) da corrupção da Petrobrás, dos empreiteiros e o que aconteceu: o país entrou em crise, numa recessão. Quando parou a corrupção, o Brasil parou”. Os parlamentares não contestaram. Risonha, terminou seu depoimento debochado cantando “Amante, amada”. Prefiro terminar relembrando Drummond do eterno “José”, que não tem sobrenome.

E agora, José?/ A festa acabou,/ a luz apagou,/ o povo sumiu,/ a noite esfriou,/ e agora, José?/ e agora, você?/ você que é sem nome,/ que zomba dos outros,/ você que faz versos,/ que ama, protesta,/ e agora, José?...Sozinho no escuro./ Qual bicho-do-mato, /sem teogonia, /sem parede nua/ para se encostar,/ sem cavalo preto/ que fuja a galope,/ você marcha, José!/ José, pra onde?” Precisamos de uma constituinte já, para refundar a nação.

SSA: A Tarde, 24/05/15


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