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Centro Histórico, a gota d’água
Uma morte, a demolição de 31 ruinas e a desocupação de muitos imóveis no
Centro Histórico (C.H.) foi a gota d’água para a denúncia de seu abandono à
Unesco por arquitetos e urbanista através do CAU/BA, IAB-BA e SINARQ-BA. A
Faculdade de Arquitetura da UFBA convocou o Seminário C.H. de Salvador em Debate
(8/7/15). Acudiram imediatamente a presidente e o superintendente do IPHAN, o
Diretor do IPAC, a diretora do Escritório do Centro Antigo, o Secretário
Municipal de Urbanismo e a diretora da F. Mario Leal Ferreira para justificar o
que fizeram naquela área desde o seu tombamento, mas não prometeram nada.
Não se pode negar que foram feitos muitos investimentos públicos na área. O fato
é que estas ações não conseguiram deter o processo de deterioração daquela área,
especialmente no Pilar, Taboão, Montanha, Conceição, Preguiça e Rua do Tijolo.
São cerca 1500 imóveis arruinados e 150 cobertos de vegetação e com escoras
metálicas já podres ameaçando caír. O que as autoridades pretendem fazer com
essas ruinas que aumenta a cada dia? A presidente do IPHAN confessa que não ter
dinheiro para sua recuperação, que custaria R$1,5 bilhões, orçamento maior que
do IPHAN. É evidente que o modelo de intervenção está falido.
A razão deste insucesso é não compreender que a questão do C.H não é edilícia,
senão urbanística e social. O Comercio e Centro Antigo estão em depressão há 40
anos com a retirada de sua função central na década de 1970 e habitacional na de
1990 para transformá-los num enclave turístico. Donos de salas no Comercio estão
entregando seus imóveis para quem queira pagar o IPTU e o condomínio. Dizer que
o C.H. está conservado porque seu cartão postal, o Pelourinho, não tem ruinas é
querer tapar o sol com peneira. A área não tem transporte, estacionamentos nem
vida social e cultural. Em duas palavras, falta de política de preservação. São
apenas restaurações isoladas, que aliviam a culpa, mas não mudam a situação. A
Prefeitura nunca se interessou pela área, com exceção da administração Mario
Kertész, e sem ela não pode haver recuperação.
Mas a área tem grande potencial econômico. Grupos privados estão comprando
centenas de imóveis na Ladeira do Mauá, Largo 2 de Julho, Areal, S. Antonio Além
do Carmo e Rua Chile e expulsando seus moradores. Seu interesse não é o
patrimônio, senão a vista para a baia, como ocorreu no Corredor da Vitória. A
situação do Centro Antigo é gravíssima e só se resolve com um plano urbanístico
que contemple incentivos fiscais, linhas de financiamento e associe grandes
investimentos públicos em infraestrutura e habitação a privados em serviços. A
chave de sua recuperação é saber associar dois interesses: o dos moradores e dos
hoteleiros, em uma operação consorciada. Não faltam ruinas.
A solicitação das associações de arquitetos de pedir uma missão da Unesco com
vista a declarar o C.H. de Salvador em Patrimônio Mundial em Risco é a mão na
roda para o IPHAN, o IPAC e a PMS conseguirem da União os recursos para este
grande desafio. O que é melhor, investir R$1,5 bilhões no C.H. ou cinco vezes
mais em duas construtoras para construírem numa ponte de veraneio? Se o Brasil
quer ter Patrimônio Mundial tem que pagar o preço.
SSA: A Tarde, 19/07/15