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Mudar Salvador

  • 02 de Agosto de 2015

Nas últimas semanas foram realizados três seminários para discutir Salvador. O primeiro, sobre seu Centro Histórico, comentei no meu último artigo. O segundo, “Cidades criativas: o cenário urbano pede inovação” promovido pela Ademi, recomendou a compactação e verticalização da cidade. Segundo seu principal expositor, paulistano, para que Salvador se transforme em uma cidade criativa seria interessante que tivesse a densidade demográfica de S. Francisco, Londres e N. York (A Tarde,18/07/15). Compactar sem infraestrutura é produzir cidades como Mumbai, Bangladesh ou o Nordeste de Amaralina, o bairro mais denso de Salvador. Estamos todos de acordo que uma cidade esgarçada tem um custo muito alto. Mas este esgarçamento é produzido pelos condomínios fechados e Minha Casa Minha Vida, de moradia sem urbanismo, duas das piores formas de segregação sócio-espacial.

O que torna uma cidade criativa não é a compactação, é ser um centro de pesquisa de ponta, ter programas sociais avançados e produzir cultura de vanguarda. Medellín é uma cidade criativa porque com a inclusão social transformou o maior bazar de cocaína do mundo numa cidade de qualidade de vida. Berlim também, porque reuniu duas cidades separadas durante 28 anos por um muro numa das mais criativas da Europa. Não importa o título. Nossa urbe foi uma cidade criativa na época de Edgar Santos, como sede da vanguarda das artes nacionais. Salvador tem a mesma densidade demográfica de Berlim, 38,6 hab./ha, e esta não precisou ser uma Manhattan para ser criativa. O que devemos fazer se não temos baldios? Encher os nossos parques de torres? Pois bem, foi aquele assessor da Ademi que a Dircas/Conder contratou para “salvar” nossa Área Central.

O terceiro evento foi o Fórum Internacional Plano Salvador/500, dentro do programa de produção de provas de participação cidadã no novo PDDU/LOUOS. A Prefeitura trouxe urbanistas do Reino Unido, Medellín, Cidade do Cabo e Londres. Cada um teve 45 minutos para expor realidades muito complexas e diversas da nossa. Infelizmente a Prefeitura não tem nenhum órgão capaz de digerir e transformar essas informações em produtos palpáveis. Más serviu para algo? Sim, serviu para convencer uma plateia atenta que estamos há anos-luz do planejamento das cidades contemporâneas e que não se pode fazer um plano estratégico para 35 anos com uma infraestrutura de planejamento raquítica como a nossa.

Em setembro deverá ser encaminhado à Câmara o novo PDDU/LOUS de Salvador, supostamente integrado a um plano para a RMS. Seria a oportunidade para que aqueles que estudam Salvador, como Heliodório Sampaio, Angela Gordilho, Inaiá Carvalho, Ana Fernandes, Ângelo Serpa, Juan Moreno e muitos outros redesenhassem Salvador, como fizeram Mario Leal Ferreira, Diógenes Rebouças e muitos outros baianos há 70 anos. A Prefeitura e a Conder preferiram contratar paulistas para traçarem o nosso futuro. Cidades criativas não se fazem sem o saber local. Este é o caso não só de Salvador como da maioria das capitais brasileiras. Como disse Antonio Risério na Flip “não há nenhuma catástrofe a caminho, a merda já aconteceu”. Pena que neste solo tão adubado não se vá plantar uma Salvador diferente.

SSA: A Tarde de 02/08/15


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