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Cidade, Arquitetura, Patrimônio
Com este título e tendo como patrono Diógenes Rebouças, o Instituto de
Arquitetos do Brasil/Ba e a Faculdade de Arquitetura da UFBA inauguraram na
última quarta-feira, dia 12, no Teatro Castro Alves uma exposição sobre o
planejamento urbano de Salvador na década de 1940, em que o patrono teve papel
destacado. Trata-se de uma exposição imperdível com 39 painéis e 16 grandes
maquetes, além de vídeos que ficarão expostos durante um mês. No próximo dia 31,
dentro da programação, será lançado o livro “Diógenes Rebouças, o arquiteto da
Bahia” da escritora Symona Gropper, editado pela Assembleia Legislativa.
O evento é muito oportuno quando se discute um plano estratégico com vigência de
35 anos, como o Salvador/500, porque ele recapitula a experiência do Escritório
do Plano Urbanístico da Cidade do Salvador, Epucs, realizado na primeira metade
da década de 1940, sob a coordenação de Mario Leal Ferreira, Diógenes e Admar
Guimarães e que reuniu os melhores profissionais da cidade nos campos da
geografia, sociologia, urbanismo, saúde pública e engenharia. Com a morte de
Mário Leal Ferreira, o plano não chegou a ser detalhado, mas a consistência de
seus estudos, que hoje poderiam ser classificados como estratégicos, permitiu
que passados 25 anos ele fosse parcialmente executado por ACM e se constituísse
na grande intervenção estruturante do território da cidade em meados do
Novecentos. Ainda hoje está é a parte mais valorizada da cidade, embora seu
patrimônio fosse em parte desambientado e perdido. Para além do rio Camarajipe,
a cidade se expandiu como um favelão com enclaves chiques, sem plano, não
obstante a tentativa de controle do inchaço pelo Plandurb/Eust, de 1975.
A exposição coordenada pelos arquitetos Nivaldo Andrade e Juliana Nery mostra a
seriedade dos trabalhos realizados pelo Epucs, cuja documentação foi restaurada
depois de 70 anos pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, sob a coordenação da
Prof. Ana Fernandes. Mostra também a qualidade da arquitetura de equipamentos
públicos apontados pelo Epucs e realizados durante o governo de Octávio
Mangabeira por Diógenes e colegas, como a Av. Centenário, o Estádio da Fonte
Nova, o Hotel da Bahia, a Escola Parque, a Penitenciaria Lemos de Brito e início
de construção do Teatro Castro Alves, este modificado sob Antonio Balbino.
A excelência desses trabalhos realizados há 70 anos, quando a Bahia apenas
começava a ter uma universidade, é um desafio para a Fundação Mario Leal
Ferreira na realização do Plano Salvador/500, que deve pautar o PDDU e a Louos a
serem encaminhados à Câmara Municipal oportunamente. O cenário político e
acadêmico atual é muito diferente do vigente no período ditatorial e que se
prolongou na Bahia por quarenta anos. Hoje o poder não está apenas na Câmara de
Vereadores, senão em associações civis muito atuantes, como o “Fórum a Cidade
Também é Nossa” que reúne 39 entidades e o Participa Salvador, respaldado pelo
Ministério Público Estadual. Essas entidades não querem apenas um plano
importado legalmente aprovado, senão um plano legitimado pela participação em
sua elaboração. A academia e a expertise locais não podem ser ignoradas.
SSA: A Tarde, 16/08/15