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Os presentes do aniversário

  • 09 de Abril de 2017

Um aniversario é sempre um dia de festa e não foi diferente os 468 anos de nossa Salvador. O dia amanheceu lindo e os jornais traziam cadernos especiais com entrevistas edificantes de historiadores, administradores públicos e cidadãos. No IGHBA a Assembleia Legislativa relançou dois importantes títulos esgotados História da Fundação da Cidade do Salvador, de Theodoro Sampaio, e Través da Bahia, de Von Spix e Von Martius. Instituições e empresas saudavam a data assinalando a sua contribuição para construção da “Nova Cidade” e de obras “tamanho G”. Não houve inaugurações importantes, senão promessas e uma semana de muvucas pré-eleitorais.

Como em todo aniversário, o dia seguinte foi para jogar o lixo fora, lavar a casa e abrir os presentes. São Pedro se encarregou de alagar a casa como faz habitualmente. A cidade parou, arrimos caíram, como o de sacos de areia do metrô, filas da vacina com a ameaça de febre amarela. As esperanças da véspera se desfizeram em 24 horas. Os presentes viraram bozós. A nova cidade era a mesma velha cidade. Não sei se algum economista já calculou o prejuízo desses alagamentos e muvucas para a cidade.

Há uma maldição no país, seca no interior e alagamentos e mortes no litoral.

É possível evita-los? Desde a antiguidade se fizeram grandes obras hidráulicas no Oriente Médio e na Europa para perenizar os rios, controlar suas cheias, torna-los navegáveis, integrá-los em redes, irrigar desertos e mover máquinas. Entre nós, os rios estão sendo mortos, como o São Francisco. Todos os rios urbanos estão poluídos. Quanto custa à nação as epidemias de zika, chicungunha, dengue, febre amarela e microcefalia, motivadas pela falta de saneamento e drenagem? Mas para os políticos obras de saneamento e drenagem não aparecem, como os viadutos, que não servem para nada, mas enganam os bobos e financiam campanhas. A transposição do São Francisco é um projeto de 1847 e demorou 170 anos para ser realizado pela metade, pois não foi feita a retroalimentação pelo Tocantins piorando as condições do Velho Chico.

São Paulo está projetando meia dúzia de piscinões para evitar os alagamentos. Não precisamos nada disso, porque não há cidade brasileira mais fácil de drenar que Salvador, com o mar em três lados e desníveis de 65 metros que permitem levar a agua por gravidade a 13 km, em canais e tubulações com 0,5% de declive. No entanto, o que se vê é a eliminação dos canteiros centrais e áreas verdes, o recobrimento dos rios para evitar o mau cheiro e a diminuição de sua seção. A consequência é o aumento dos alagamentos e poluição das praias. Será que eu estou louco, vendo chifres na cabeça de cavalos ou são eles que estão cegos? O feliz aniversário foi sucedido por dois dias de alagamentos e o 1º de abril.

SSA: A Tarde de 09/04/17


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