Artigos de Jornal
No urbanismo “menos é mais”
Onde quer que esteja o velho ACM deve estar se contorcendo ao ver
desnaturarem duas das suas obras mais caras, a Av. Paralela e o Centro Iguatemi.
A Paralela, concebida como um boulevard, foi transformada em uma ferrovia, que
divide a cidade ao meio, a pobre da rica. De uma pista já não se vê a outra, com
aterros e estações monstruosas.
O centro de negócios do Iguatemi, que pretendia substituir o tradicional, nunca
teve um projeto e ficou sem uma praça ou uma rotula de distribuição de trafego.
Se alguém que vier pela Bonocô errar a entrada para a Pituba terá que ir até o
viaduto da Madeireira Brotas retornar até a engarrafada rótula do Abacaxi e
rodar 7 km para finalmente entrar na Av, ACM.
No Iguatemi se fizeram investimentos bilionários, públicos e privados, sob a
forma de infraestrutura, shopping centers, edifícios de escritórios e lojas.
Hoje é um dos pontos mais engarrafados e inóspitos da cidade, com estações
ferroviárias penduradas, filtragem de lixo flutuante, passarelas labirínticas e
muito concreto. Sem os planos estratégico Salvador 500 e setorial de mobilidade,
a situação ficará ainda pior se a Prefeitura insistir em licitar mais uma ”via
expressa” com 12 viadutos quilométricos de três níveis e estações de BRT aéreas
cortando arvores e recobrindo os rios para trazer todo o trafego da Vasco da
Gama, Garibaldi e Pituba para o Iguatemi ao invés de articulá-lo com a Tancredo
Neves e a orla. O centro chique Iguatemi virará um nó rodoferroviário cego
suburbano.
Tudo poderia ser feito no chão, com ônibus expressos com assoalhos a 20 cm do
rua em vias exclusivas, como se está fazendo no 1º Mundo. Plataformas elevadas e
curral de pré-pagos, quando hoje os cartões são vendidos em quiosques, são
coisas da década de 60. A articulação das avenidas ACM e Juracy Magalhães Jr.
poderia ser feita com uma grande rótula ao invés de uma macarronada de viadutos.
Os tecnocratas automotivos municipais esqueceram a lição de Mies van der Rohe de
que em arquitetura e urbanismo “less is more”. Menos concreto e mais espaços de
socialidade!
SSA, A Tarde de 23/04/17