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No urbanismo “menos é mais”

  • 23 de Abril de 2017

Onde quer que esteja o velho ACM deve estar se contorcendo ao ver desnaturarem duas das suas obras mais caras, a Av. Paralela e o Centro Iguatemi. A Paralela, concebida como um boulevard, foi transformada em uma ferrovia, que divide a cidade ao meio, a pobre da rica. De uma pista já não se vê a outra, com aterros e estações monstruosas.

O centro de negócios do Iguatemi, que pretendia substituir o tradicional, nunca teve um projeto e ficou sem uma praça ou uma rotula de distribuição de trafego. Se alguém que vier pela Bonocô errar a entrada para a Pituba terá que ir até o viaduto da Madeireira Brotas retornar até a engarrafada rótula do Abacaxi e rodar 7 km para finalmente entrar na Av, ACM.

No Iguatemi se fizeram investimentos bilionários, públicos e privados, sob a forma de infraestrutura, shopping centers, edifícios de escritórios e lojas. Hoje é um dos pontos mais engarrafados e inóspitos da cidade, com estações ferroviárias penduradas, filtragem de lixo flutuante, passarelas labirínticas e muito concreto. Sem os planos estratégico Salvador 500 e setorial de mobilidade, a situação ficará ainda pior se a Prefeitura insistir em licitar mais uma ”via expressa” com 12 viadutos quilométricos de três níveis e estações de BRT aéreas cortando arvores e recobrindo os rios para trazer todo o trafego da Vasco da Gama, Garibaldi e Pituba para o Iguatemi ao invés de articulá-lo com a Tancredo Neves e a orla. O centro chique Iguatemi virará um nó rodoferroviário cego suburbano.

Tudo poderia ser feito no chão, com ônibus expressos com assoalhos a 20 cm do rua em vias exclusivas, como se está fazendo no 1º Mundo. Plataformas elevadas e curral de pré-pagos, quando hoje os cartões são vendidos em quiosques, são coisas da década de 60. A articulação das avenidas ACM e Juracy Magalhães Jr. poderia ser feita com uma grande rótula ao invés de uma macarronada de viadutos. Os tecnocratas automotivos municipais esqueceram a lição de Mies van der Rohe de que em arquitetura e urbanismo “less is more”. Menos concreto e mais espaços de socialidade!

SSA, A Tarde de 23/04/17


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