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Revendo Arlindo Fragoso

  • 18 de Junho de 2017

Comemora-se este ano os 152 anos de nascimento de Arlindo Fragoso, 120 da Escola Politécnica e 100 da Academia de Letras da Bahia, criadas por ele. Mas Fragoso tem sido associado, injustamente, ao “urbanismo demolidor”, que destruiu, entre outras, a igreja da Sé, em 1933, sete anos após a sua morte. A maioria dos autores atribui ao prefeito Júlio Viveiros Brandão a demolição das igrejas de Ajuda e S. Pedro Velho e parcialmente do Rosário e das Mercês.

O alargamento da Av. Sete foi um projeto do engenheiro e empreiteiro Jerônimo de Alencar Lima, sócio de Simões Filho em A Tarde, aprovado por Viveiros em 1912. Seu projeto incluía também a abertura da Av, 2 de Julho, atual Carlos Gomes. que só seria executada no final da década de 1930. Viveiros preferiu reconstruir igrejas que enfrentar os donos de sobrados do lado oposto. Foi de Alencar Lima a ideia de demolir a Sé, não endossada por Fragoso, que mediou também a não mutilação de S. Bento.

Fragoso foi mais um planejador, que um urban designer. Foi dele a ideia de levar a Av, Sete até o Porto da Barra, sem demolições, e criar a Av. Oceânica, antevendo a expansão urbana para as praias e de articular o porto à ferrovia interiorana. Reforma urbana mais consequente que as estetizantes do Rio (1906) e do Recife (1913). Como não era urbanista, confiou o projeto da orla ao italiano Filipe Santoro.

Salvador era, então, uma cidade com casarões e sobrados escuros. Seu planejamento mudou a cara de Salvador. O ecletismo, das aspirações europeizantes da burguesia local e do saudosismo de comerciantes estrangeiros, introduziu avanços urbanísticos, como chalés com recuos frontal e lateral e ruas arborizadas; construtivos, com o uso do ferro e do concreto; e higiênicos, com sanitários inodoros dentro das casas. Mas enfrentou o preconceito dos modernistas. O IPHAN foi o principal agente desse preconceito, e permitiu a destruição de belos conjuntos ecléticos no Rio, S. Paulo e Bahia.

Fragoso foi vítima desse preconceito e acusado de um crime que não cometeu, embora tenha se omitido diante do todo poderoso Seabra do “bota abaixo” carioca. Além de um técnico, ele foi um político hábil e intelectual amigo de Machado de Assis e Bilac, autor de livros e criador de duas bibliotecas, uma faculdade e a Academia de Letras da Bahia.

SSA: A Tarde, 18/06/2017

OS - O escritor Nelson Varón Cadena acrescentou no meu Facebook a seguinte nota:
Excelente resgate. Apenas acrescentando que o projeto do engenheiro, empreiteiro e sócio de Simões Filho em A Tarde, Jerônimo de Alencar, foi executado apenas parcialmente, excluindo a Av. Dois de Julho que seria a Carlos Gomes. Seabra dispensou os serviços de Alencar e optou por executar a obra com os Guinle pelo fato destes intermediarem o empréstimo com os bancos europeus. Que foi uma furada. Parte do empréstimo aprovado foi retida pelos bancos como pagamento de créditos a receber do governo de administrações anteriores. É ai que entra a firma Lafayete & Cia. Para substituir os Guinle e execução da Avenida Sete.


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