Artigos de Jornal
Revendo Arlindo Fragoso
Comemora-se este ano os 152 anos de nascimento de Arlindo Fragoso, 120 da
Escola Politécnica e 100 da Academia de Letras da Bahia, criadas por ele. Mas
Fragoso tem sido associado, injustamente, ao “urbanismo demolidor”, que
destruiu, entre outras, a igreja da Sé, em 1933, sete anos após a sua morte. A
maioria dos autores atribui ao prefeito Júlio Viveiros Brandão a demolição das
igrejas de Ajuda e S. Pedro Velho e parcialmente do Rosário e das Mercês.
O alargamento da Av. Sete foi um projeto do engenheiro e empreiteiro Jerônimo de
Alencar Lima, sócio de Simões Filho em A Tarde, aprovado por Viveiros em 1912.
Seu projeto incluía também a abertura da Av, 2 de Julho, atual Carlos Gomes. que
só seria executada no final da década de 1930. Viveiros preferiu reconstruir
igrejas que enfrentar os donos de sobrados do lado oposto. Foi de Alencar Lima a
ideia de demolir a Sé, não endossada por Fragoso, que mediou também a não
mutilação de S. Bento.
Fragoso foi mais um planejador, que um urban designer. Foi dele a ideia de levar
a Av, Sete até o Porto da Barra, sem demolições, e criar a Av. Oceânica,
antevendo a expansão urbana para as praias e de articular o porto à ferrovia
interiorana. Reforma urbana mais consequente que as estetizantes do Rio (1906) e
do Recife (1913). Como não era urbanista, confiou o projeto da orla ao italiano
Filipe Santoro.
Salvador era, então, uma cidade com casarões e sobrados escuros. Seu
planejamento mudou a cara de Salvador. O ecletismo, das aspirações europeizantes
da burguesia local e do saudosismo de comerciantes estrangeiros, introduziu
avanços urbanísticos, como chalés com recuos frontal e lateral e ruas
arborizadas; construtivos, com o uso do ferro e do concreto; e higiênicos, com
sanitários inodoros dentro das casas. Mas enfrentou o preconceito dos
modernistas. O IPHAN foi o principal agente desse preconceito, e permitiu a
destruição de belos conjuntos ecléticos no Rio, S. Paulo e Bahia.
Fragoso foi vítima desse preconceito e acusado de um crime que não cometeu,
embora tenha se omitido diante do todo poderoso Seabra do “bota abaixo” carioca.
Além de um técnico, ele foi um político hábil e intelectual amigo de Machado de
Assis e Bilac, autor de livros e criador de duas bibliotecas, uma faculdade e a
Academia de Letras da Bahia.
SSA: A Tarde, 18/06/2017
OS - O escritor Nelson Varón Cadena acrescentou no meu Facebook a seguinte nota:
Excelente resgate. Apenas acrescentando que o projeto do engenheiro, empreiteiro
e sócio de Simões Filho em A Tarde, Jerônimo de Alencar, foi executado apenas
parcialmente, excluindo a Av. Dois de Julho que seria a Carlos Gomes. Seabra
dispensou os serviços de Alencar e optou por executar a obra com os Guinle pelo
fato destes intermediarem o empréstimo com os bancos europeus. Que foi uma
furada. Parte do empréstimo aprovado foi retida pelos bancos como pagamento de
créditos a receber do governo de administrações anteriores. É ai que entra a
firma Lafayete & Cia. Para substituir os Guinle e execução da Avenida Sete.