Artigos de Jornal
A crise da construção civil
A construção civil, que era uma das atividades que mais empregava, está em
crise. Para os empresários da área isto seria resolvido com o novo PDDU em cuja
elaboração tiveram grande participação. O PDDU só fez inflacionar
artificialmente o solo urbano, o que piorou a crise, e não resolveu o problema,
que é nacional. Eles precisam compreender que o pais tem hoje 85% de população
urbanizada e taxa de natalidade igual aos dos países desenvolvidos. Isto
significa uma diminuição radical da demanda quantitativa de novas habitações.
Por outro lado, o mercado imobiliário não é mais atrativo para uma classe média
alta de comerciantes, prestadores de serviço e profissionais liberais que
investiam nesse setor. Os alugueis de apartamentos e salas dificilmente atingem
5% ao ano, taxa igual a da inflação, quando aplicações financeiras rendem, no
mínimo, 12%. Comprar na plante para vender na entrega das chaves virou caveira
de burro.
Temos, sim, um passivo qualitativo muito grande representado por nossas favelas
dominadas pelos quarteis da droga. A política nacional neste setor é um
desastre. O Programa Minha Casa Minha Vida, concebido para socorrer o setor
imobiliário, foi um tiro pela culatra. Está criando cidades esgarçadas, o que
encarece tremendamente a infraestrutura e aumenta a demanda de transporte
automotivo e o tempo perdido. E, o pior, não resolve o problema da integração.
Este tipo de programa segregacionista inaugurado no Rio, na época de Lacerda,
com a Cidade de Deus e a Vila Kennedy viraram favelas dominadas pelas máfias.
Vocês se recordam do filme Cidade de Deus?
Soluções existem, como o programa Favela Bairro, implantado pelo arquiteto Paulo
Conde como secretário de urbanismo e prefeito do Rio, na década de 1990. O
programa melhorava a acessibilidade e implantava equipamentos sociais e de lazer
nas favelas, mas não teve continuidade porque não contemplava as grandes
empreiteiras. O que se tentou em seu lugar é um fracasso, as UPPs, Unidades de
Polícia Pacificadora, que apostaram na repressão e não na urbanização e
integração social. O resultado é evidente nas UPPs do Alemão e da Maré, em
permanente conflito.
Se não bastassem essas mazelas, as construtoras brasileiras, tratadas como se
todas fossem corruptas, no show global das 20:30 hs., foram trituradas para dar
lugar às empreiteiras chinesas, como estamos assistindo no setor elétrico, na
Fiol, no Porto Sul e na supérflua ponte Salvador-Ilha. Estamos exportando
empregos para a China e aumentando a mendicância, a informalidade e as
cracolândias dos desesperados. A economia de Salvador não pode se basear só
nessa atividade sem futuro. Diversificar é preciso. O que estamos fazendo pelas
manufaturas não poluentes, pelo terciário superior, pela pesquisa de ponta?
SSA: A Tarde de 04/06/17