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A crise da construção civil

  • 04 de Junho de 2017

A construção civil, que era uma das atividades que mais empregava, está em crise. Para os empresários da área isto seria resolvido com o novo PDDU em cuja elaboração tiveram grande participação. O PDDU só fez inflacionar artificialmente o solo urbano, o que piorou a crise, e não resolveu o problema, que é nacional. Eles precisam compreender que o pais tem hoje 85% de população urbanizada e taxa de natalidade igual aos dos países desenvolvidos. Isto significa uma diminuição radical da demanda quantitativa de novas habitações. Por outro lado, o mercado imobiliário não é mais atrativo para uma classe média alta de comerciantes, prestadores de serviço e profissionais liberais que investiam nesse setor. Os alugueis de apartamentos e salas dificilmente atingem 5% ao ano, taxa igual a da inflação, quando aplicações financeiras rendem, no mínimo, 12%. Comprar na plante para vender na entrega das chaves virou caveira de burro.

Temos, sim, um passivo qualitativo muito grande representado por nossas favelas dominadas pelos quarteis da droga. A política nacional neste setor é um desastre. O Programa Minha Casa Minha Vida, concebido para socorrer o setor imobiliário, foi um tiro pela culatra. Está criando cidades esgarçadas, o que encarece tremendamente a infraestrutura e aumenta a demanda de transporte automotivo e o tempo perdido. E, o pior, não resolve o problema da integração. Este tipo de programa segregacionista inaugurado no Rio, na época de Lacerda, com a Cidade de Deus e a Vila Kennedy viraram favelas dominadas pelas máfias. Vocês se recordam do filme Cidade de Deus?

Soluções existem, como o programa Favela Bairro, implantado pelo arquiteto Paulo Conde como secretário de urbanismo e prefeito do Rio, na década de 1990. O programa melhorava a acessibilidade e implantava equipamentos sociais e de lazer nas favelas, mas não teve continuidade porque não contemplava as grandes empreiteiras. O que se tentou em seu lugar é um fracasso, as UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora, que apostaram na repressão e não na urbanização e integração social. O resultado é evidente nas UPPs do Alemão e da Maré, em permanente conflito.

Se não bastassem essas mazelas, as construtoras brasileiras, tratadas como se todas fossem corruptas, no show global das 20:30 hs., foram trituradas para dar lugar às empreiteiras chinesas, como estamos assistindo no setor elétrico, na Fiol, no Porto Sul e na supérflua ponte Salvador-Ilha. Estamos exportando empregos para a China e aumentando a mendicância, a informalidade e as cracolândias dos desesperados. A economia de Salvador não pode se basear só nessa atividade sem futuro. Diversificar é preciso. O que estamos fazendo pelas manufaturas não poluentes, pelo terciário superior, pela pesquisa de ponta?

SSA: A Tarde de 04/06/17


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