Artigos de Jornal
A performance das editoras baianas
Quando eu era estudante havia em Salvador duas livrarias-editoras: Progresso,
do prof. Pinto de Aguiar, e Civilização Brasileira, que publicava com o selo
Itapuã. Eram editoras pequenas, mas autossustentáveis. Hoje temos muitas
editoras, mas o livro baiano enfrenta o gargalo da distribuição nacional
monopolizado pela Saraiva e Cultura, que cobram 50% do preço de capa. O editor
paga direitos autorais, ilustrador, revisor, diagramador, papel e impressão.
As maiores editoras baianas são ligadas a instituições públicas e são
especializadas. A Edufba divulga a grande produção acadêmica da UFBA. Não
publica ficção nem poesia. Consegue distribuir seus livros nacionalmente através
da Associação de Brasileira de Editoras Universitárias. Isso lhe permitiu
publicar 1600 títulos. A Casa de Jorge Amado, ao contrário, publica ficção,
poesia e artes. Algumas editoras privadas se especializaram em livros de arte,
como a Solisluna, Caramurê e Corrupio, com patrocínio da Lei Rouanet. A
Odebrecht publica belíssimos livros ilustrados com gravuras e aquareles antigas.
No futuro a empresa não será lembrada pelas obras que realizou para a Petrobrás,
senão pelos livros que editou.
Construção da imagem institucional e difusão cultural é também a função de
Publicações Alba. Seus livros são a parte palpável do trabalho realizado pela
Assembleia Legislativa da Bahia. Sua linha editorial é genérica. Publica desde
memórias, como História da Fundação da Cidade do Salvador, de Theodoro Sampaio,
e Através da Bahia, de Von Spix e Von Martius, até literatura, como A menina que
foi vento, de Symona Gropper, recém lançados. Sua coleção Gente da Bahia, já
lançou 47 títulos focando desde A Mulher de Roxo, até Milton Santos. A Alba
publica também coedições como Mestres da literatura baiana, com a Academia de
Letras da Bahia, que soma 11 títulos. Mantem convênios semelhantes com a Câmara
Baiana do Livro, Fundação Pedro Calmon, Uneb, Casa de Jorge Amado e outras. É a
grande editora do Estado. Sem apoio público não podemos ter cultura, nem memória
escrita.
SSA: A Tarde, de 21/05/2017