Artigos de Jornal
As invenções geniais do século XIX
Numa discussão sobre ensino de arquitetura na UFRJ, um estudante disse que
não concordava com Lucio Costa porque ele era um arquiteto do século XIX. O
mestre agradeceu e disse que no século XIX ele estava em boa companhia. Senão
vejamos. Em 1804, Richard Trevithck, faz correr a 8 km/h um trem a vapor com
cinco vagões carregando 70 passageiros e 18 toneladas de carga. As
marias-fumaças, queimando lenha e depois carvão de pedra, funcionaram em muitos
países até a década de 1960, apesar de em 1879 o alemão Siemens ter criado a
locomotiva elétrica, com uma eficiência energética de 85%, porque elas exigiam a
eletrificação das linhas. Sem fumaça elas permitiram instalar os primeiros
metrôs urbanos. Hoje na Europa os TGVs, aperfeiçoados pelos franceses em 1980,
correm a 350 km/h. E os orientais estão instalando os primeiros trens de
levitação magnética, os Maglev, capazes de atingirem velocidades ainda maiores.
A lâmpada elétrica é outra dessas invenções. A primeira a funcionar foi a de
filamento de carvão de Thomas Edson, de 1879. Depois, o carvão foi substituído
pelo tungstênio. Lâmpadas florescentes, mais econômicas, inventadas por Tesla em
1938, iriam competir com as de filamento. Mas a grande revolução teria origem em
1961, com a descoberta do Led, por Biard e Pittman. Lâmpadas de Led chegariam ao
mercado em 1989 e entre nós só recentemente.
O telefone, inventado por Bell e Watson, em 1875, teve uma evolução notável. As
primeiras ligações sem fio ocorrem 18 anos depois. Ainda alcancei no interior da
Bahia os telefones com manivela que levavam horas para completar uma ligação. A
substituição telefonistas com dezenas de “bananas” nas mãos por seletores
automáticos permitiu evitar milhares viagens urbanas e interurbanas. Em 1978, os
japoneses fizeram o primeiro telefone móvel. Hoje o celular substitui a
lanterna, a Kodak, a filmadora e o computador.
Mas a história tem suas roturas. Também do XIX é o automóvel. O primeiro a
gasolina data de 1885, do alemão Karl Benz. Sua evolução foi pequena. Os
primeiros eram carruagens em que os cavalos foram substituídos por um motor,
cuja potência ainda é medida em horse power. Sua produção em massa com o Ford T,
gerou uma urbanização esgarçada nos EUA, que destruiu lavouras, e engarrafou
nossas cidades. Seus avanços mecânicos, como o motor V-8, a tração dianteira e a
caixa de marcha automática, são do final da década de 1930. Mas ainda hoje seu
motor transforma 75% da energia da gasolina em calor e seus escapes são dos
maiores poluidores da atmosférica. O carro elétrico só surgiu 100 anos depois do
trem e é híbrido, compartilhado com o motor a gasolina. Sua primeira grande
revolução são os carros inteligentes, que vão aposentar o chauffer, ou foguista.
Pobre de quem acredita que o Tesla vai descongestionar as nossas cidades.
SSA: A Tarde de 5/11/17