Artigos de Jornal
O avassalador mundo novo
Roturas dos processos históricos são férteis na criação de ficções politicas.
A passagem da Idade Média para a Modernidade gerou uma obra marcante da
literatura, A Utopia. Nela, Thomas Morus denuncia a truculência da coroa inglesa
e descreve uma sociedade ideal numa ilha, que dizem ser o Brasil, com seus
índios. Vivemos hoje outra rotura com o fim da Modernidade. São muitas as
ficções politicas atuais, mas de caráter anti-utópico, sob estados totalitários.
Vou recordar três delas.
“O admirável mundo novo”, de Audus Huxley, de 1931, trata da manipulação
genética e psicológica de um estado que tem o controle de todos os cidadãos e
sofre o impacto da chegada de um “selvagem” com outros valores. Para alguns
autores ela retrata o fim da utopia socializante europeia no pós-guerra de 1914.
A manipulação genética em plantas e animais avança e ameaça chegar ao Homem.
Inspirado em livro de Philip Dick o filme “Blade Runner, o caçador de androides”
retrata uma sociedade com “replicantes”, criados pela bioengenharia, que lutam
contra “androides”, robôs com forma humana.
O romance de George Orwell “1984”, publicado em 1949 no pós-guerra mundial
retrata um estado totalitário com o chefão virtual Big Brother que nos vigia
diuturnamente. Seria uma alerta sobre o comunismo internacional, mas quem o
implementou foi o capitalismo transnacional. Iphones, tabletes, smart TVs e
câmaras monitoram nossas conversas, imagens e pensamentos. Os EUA não dão visas
sem antes entrarem nas redes sociais que frequentamos. Os cartões de créditos
monitoram nossos movimentos, vida econômica e preferencias e nos bombardeiam com
ofertas. A privacidade acabou.
Um livro de Arthur Clarke inspirou o filme “2001, Odisseia no espaço”, de
Kubrick em 1968. Nele vê-se a evolução do Homem e o domínio de seu destino e das
relações com extraterrestres pela inteligência artificial de HAL, um
supercomputador IBM surtado. Nas fabricas robôs substituem operários. Trens,
metrôs e Teslas dispensam condutores. Estamos, como canta Zé Ramalho, nos
transformando no Admirável gado novo. Isto é ficção ou realidade?
SSA: A Tarde, de 19.11.17