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O avassalador mundo novo

  • 19 de Novembro de 2017

Roturas dos processos históricos são férteis na criação de ficções politicas. A passagem da Idade Média para a Modernidade gerou uma obra marcante da literatura, A Utopia. Nela, Thomas Morus denuncia a truculência da coroa inglesa e descreve uma sociedade ideal numa ilha, que dizem ser o Brasil, com seus índios. Vivemos hoje outra rotura com o fim da Modernidade. São muitas as ficções politicas atuais, mas de caráter anti-utópico, sob estados totalitários. Vou recordar três delas.

“O admirável mundo novo”, de Audus Huxley, de 1931, trata da manipulação genética e psicológica de um estado que tem o controle de todos os cidadãos e sofre o impacto da chegada de um “selvagem” com outros valores. Para alguns autores ela retrata o fim da utopia socializante europeia no pós-guerra de 1914. A manipulação genética em plantas e animais avança e ameaça chegar ao Homem. Inspirado em livro de Philip Dick o filme “Blade Runner, o caçador de androides” retrata uma sociedade com “replicantes”, criados pela bioengenharia, que lutam contra “androides”, robôs com forma humana.

O romance de George Orwell “1984”, publicado em 1949 no pós-guerra mundial retrata um estado totalitário com o chefão virtual Big Brother que nos vigia diuturnamente. Seria uma alerta sobre o comunismo internacional, mas quem o implementou foi o capitalismo transnacional. Iphones, tabletes, smart TVs e câmaras monitoram nossas conversas, imagens e pensamentos. Os EUA não dão visas sem antes entrarem nas redes sociais que frequentamos. Os cartões de créditos monitoram nossos movimentos, vida econômica e preferencias e nos bombardeiam com ofertas. A privacidade acabou.

Um livro de Arthur Clarke inspirou o filme “2001, Odisseia no espaço”, de Kubrick em 1968. Nele vê-se a evolução do Homem e o domínio de seu destino e das relações com extraterrestres pela inteligência artificial de HAL, um supercomputador IBM surtado. Nas fabricas robôs substituem operários. Trens, metrôs e Teslas dispensam condutores. Estamos, como canta Zé Ramalho, nos transformando no Admirável gado novo. Isto é ficção ou realidade?

SSA: A Tarde, de 19.11.17


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