Artigos de Jornal
Dormindo eternamente em berço esplendido
O diplomata e historiador Rubens Ricupero acaba de lançar o livro “A
diplomacia na construção do Brasil: 1750-2016” e veio lança-lo na nossa
Associação Comercial. Não estive lá, mas li sua entrevista na revista Muito, de
24/12/17. Ele mostra que o que acontece no Brasil é reflexo do que acontece lá
fora. A duplicação do território nacional, apesar dos bandeirantes, foi
resultado da troca por Portugal da Colônia do Sacramento com a Espanha, que
queria o controle do Rio da Prata, em 1750. A transferência da coroa portuguesa
para o Brasil e a nossa independência, apesar dos inconfidentes, foi resultado
da invasão de Portugal pelos franceses. Nós também influenciamos a história
europeia financiando, via Portugal, a revolução industrial inglesa e a libra,
com o ouro de Minas Gerais.
O que aconteceu em 1964 no país foi um reflexo da crise dos mísseis em Cuba e
Ricupero publica documentos recém liberados pelos EUA, que comprovam a sua
participação no golpe de 1964. A Guerra Fria, hoje, é comercial, estratégica e
cibernética. Em consoles de games, russos e americanos travam uma guerra
destruindo a Síria. O soft power, a diplomacia, não é mais soft.
Desestabiliza-se um país ou região com a espionagem eletrônica, com as notas das
agencias de risco e sanitárias, com a entrega de informações à 5ª coluna e a
mobilização popular com fake news. Mas a história é incontrolável. A Primavera
Árabe (do petróleo) foi um tiro pela culatra, desestabilizou o Oriente Médio,
provocou a invasão islâmica da Europa, aumentou o terrorismo, criou o Estado
Islâmico e destruiu a Líbia e a Síria.
O Brasil passa hoje por um processo de instabilidade política, econômica e de
segurança pública, supostamente por causas só internas. Mas imaginar que um país
que é a 7ª economia mundial, tem biodiversidade e a água da Amazônia, o Pré-Sal,
como alternativa ao petróleo árabe, é o maior exportador de proteína e grãos, e
tem um mercado de 200 milhões de consumidores está fora da guerra geopolítica e
financeira global, é ingenuidade. O quatro internacional hoje é mais complexo
que durante a Guerra Fria. Nem os EUA escapam. A CIA tem provas que milhões de
fake news russos facilitaram a eleição de um louco no país e 18 de seus espias
desapareceram na China.
Há um episódio nacional obscuro. Em junho de 2013, milhares de e-mails
convocaram manifestações em todo o Brasil contra o aumento de 20 centavos nos
ónibus paulistanos. Nunca se soube que eram seus líderes e black blocs
encapuçados, que tentaram incendiar não a prefeitura ou os ônibus de São Paulo,
mas o Congresso Nacional e o Itamarati. A Abin não investigou nada. Sherlock
Holmes perguntaria a quem o fato beneficia? Seria ao mordomo, a Putin, aos
chineses ou às bolsas? A resposta só teremos dentro de 50 anos.
SSA: A Tarde, 28/01/18