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Dormindo eternamente em berço esplendido

  • 28 de Janeiro de 2018

O diplomata e historiador Rubens Ricupero acaba de lançar o livro “A diplomacia na construção do Brasil: 1750-2016” e veio lança-lo na nossa Associação Comercial. Não estive lá, mas li sua entrevista na revista Muito, de 24/12/17. Ele mostra que o que acontece no Brasil é reflexo do que acontece lá fora. A duplicação do território nacional, apesar dos bandeirantes, foi resultado da troca por Portugal da Colônia do Sacramento com a Espanha, que queria o controle do Rio da Prata, em 1750. A transferência da coroa portuguesa para o Brasil e a nossa independência, apesar dos inconfidentes, foi resultado da invasão de Portugal pelos franceses. Nós também influenciamos a história europeia financiando, via Portugal, a revolução industrial inglesa e a libra, com o ouro de Minas Gerais.

O que aconteceu em 1964 no país foi um reflexo da crise dos mísseis em Cuba e Ricupero publica documentos recém liberados pelos EUA, que comprovam a sua participação no golpe de 1964. A Guerra Fria, hoje, é comercial, estratégica e cibernética. Em consoles de games, russos e americanos travam uma guerra destruindo a Síria. O soft power, a diplomacia, não é mais soft. Desestabiliza-se um país ou região com a espionagem eletrônica, com as notas das agencias de risco e sanitárias, com a entrega de informações à 5ª coluna e a mobilização popular com fake news. Mas a história é incontrolável. A Primavera Árabe (do petróleo) foi um tiro pela culatra, desestabilizou o Oriente Médio, provocou a invasão islâmica da Europa, aumentou o terrorismo, criou o Estado Islâmico e destruiu a Líbia e a Síria.

O Brasil passa hoje por um processo de instabilidade política, econômica e de segurança pública, supostamente por causas só internas. Mas imaginar que um país que é a 7ª economia mundial, tem biodiversidade e a água da Amazônia, o Pré-Sal, como alternativa ao petróleo árabe, é o maior exportador de proteína e grãos, e tem um mercado de 200 milhões de consumidores está fora da guerra geopolítica e financeira global, é ingenuidade. O quatro internacional hoje é mais complexo que durante a Guerra Fria. Nem os EUA escapam. A CIA tem provas que milhões de fake news russos facilitaram a eleição de um louco no país e 18 de seus espias desapareceram na China.

Há um episódio nacional obscuro. Em junho de 2013, milhares de e-mails convocaram manifestações em todo o Brasil contra o aumento de 20 centavos nos ónibus paulistanos. Nunca se soube que eram seus líderes e black blocs encapuçados, que tentaram incendiar não a prefeitura ou os ônibus de São Paulo, mas o Congresso Nacional e o Itamarati. A Abin não investigou nada. Sherlock Holmes perguntaria a quem o fato beneficia? Seria ao mordomo, a Putin, aos chineses ou às bolsas? A resposta só teremos dentro de 50 anos.

SSA: A Tarde, 28/01/18


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