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A garganta da baleia
Com financiamento do BNDS, as três maiores construtoras brasileiras e a
japonesa Kawasaki investiram R$2,8 bilhões na construção de um estaleiro de
navios-sondas para o pre-sal em São Roque do Paraguaçu. Esse poderia ser uma
nova alavanca para a economia baiana, mas a empresa Enseada Industria Naval está
atolada num passivo bilionário depois que o contrato de R$4,8 bilhões para
construção de seis navios-sonda foi cancelado pela Petrobrás com o envolvimento
da Odebrecht, OAS e UTC na Lava Jato e mudança da política da empresa de não
privilegiar a indústria nacional.
Mas o que tem a ver a baleia com esse fato? Há dois tipos de baleias, uma que se
alimenta de plâncton e krill e tem na boca um filtro, a outra que tem dentes,
mas só engole peixes pequenos porque tem uma garganta apertada. Pois é, a nossa
baia, que tem uma boca enorme, pode virar uma baleia dentada, mediante uma
delicada operação chinesa que vai botar uma dentadura postiça na sua boca e
estreitar sua garganta por onde só passarão navios pequenos para os portos de
Aratu, Temadre, estação de regaseificação e estaleiro do Paraguaçu, aguardando o
semáforo de entrada e saída se abrir. A pretexto de baratear seu custo, os
chineses bateram o martelo reduzindo a altura de seu vão central de 125 para 85
m (A Tarde, 8/2/18).
Ou seja, adeus o estaleiro do Paraguaçu, e os 2,8 bilhões nossos do BNDS, pois
com essa altura não passarão as plataformas e navios de exploração de petróleo,
nem cábreas e guindastes STS de contêineres para os portos da baia. A ponte
Rio-Niterói tem 72 m de altura e por isso não se pode construir plataformas e
navios-sonda na Bahia da Guanabara. Como não há outro local igual na costa
brasileira, vamos comprar esses equipamentos onde? Em Shangai, isto sim é um
negócio da China. Não há limite para o crescimento em altura dos navios e
plataformas de petróleo. No campo de Troll na Noruega há uma plataforma
navegável com 472 m de altura. Para evitar restrições à navegação, a Inglaterra
e a França construíram o túnel ferroviário da Mancha e a Suécia e a Dinamarca, o
túnel ferro-rodoviário no estrito de Oresund. O pedágio de um carro nesse último
custa 36 euros, ou R$ 145,00.
Não precisamos gastar R$ 290,00 para passar um domingo em Itaparica. Como
alternativa à ponte tenho defendido a construção de uma envolvente
ferro-rodoviária à BTS, podendo-se chegar a Itaparica em trens rápidos em 40
minutos. Em Salinas da Margarida poderia ser construído um hub-porto com calado
de 25 m para os navios gigantes de contêineres, que articulado à Fiol poderá ser
o terminal atlântico da ferrovia transcontinental ligada ao porto de Ilo, no
Peru. Por Salinas poderiam passar as exportações e importações do Chile, Perú,
Bolívia, Paraguai e do nosso planalto central. Quanto ganharia a Bahia com isto?
SSA: A Tarde de 25/02/18