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Não é guerra não, só fogos de artifício
Qual o interesse de Putin em apoiar Trump e desse em bombardear a Síria?
Esses são jogos muito complexos, mas é possível desvendar o enigma analisando os
fatos. O inimigo não declarado dos dois é a China, com seu enorme potencial
militar, tecnológico e econômico. Interessa à Rússia se associar aos EUA para
barrar uma expansão territorial da China e aos EUA manter o campo de batalha
longe da Europa e da América. A aliança dos dois é evidente, como comprovou a
CIA, mesmo com divergências em pontos menores, como o Oriente Médio.
A China trabalha em silêncio, o que lhe permitiu se transformar numa
megapotência sem se envolver em conflitos. Mas era ela que estava por traz da
Coreia do Norte na guerra de 1950/53 e do Vietnam, entre 1955 e 1975, impondo
derrotas aos EUA. São eles que estão novamente por traz da Coreia do Norte.
Aquele país de economia fechada, mas não tão atrasado como diz a mídia, não
teria meios sozinho de desenvolver ogivas atômicas miniaturizadas e lançar oito
foguetes de médio alcance em um só dia e dois de longo alcance cruzando o céu do
Japão. Os chineses mostram os seus dentes na boca de Kin Jong e, numa jogada de
mestre, se oferecem para mediar o conflito.
Desgastados com a invasão do Iraque, que depois de 15 anos não conseguiu
pacificar o país e criou o sanguinário Estado Islâmico, os EUA perderam
influencia no Oriente Médio. O remendo, a Primavera Árabe, foi pior que o
soneto: desestabilizou os demais países da região e provocou um êxodo, que
ameaça islamizar a Europa.
O recente bombardeio microcirúrgico da Síria, como disse o premier russo, foi
mais um ataque político, que militar. Isto fica evidente na reação moderada dos
russos e dos sírios e nos discursos de Tereza May e de Macron: não se tratava de
mudar o regime ou interferir na guerra civil síria. Assad, com os russos, está
derrotando o Estado Islâmico que é apoiado pela Arábia Saudita, Qatar e
Emirados, aliados dos EUA. É o Ocidente tentando ofuscar, com fogos de artificio,
suas contradições na região, hoje dominada pelos russos, turcos e iranianos.
SSA: A Tarde, 22/04/18.