Artigos de Jornal
“Pra não dizer que não falei de flores”
Os políticos ainda não perceberam a revolução provocada pela informática nas
atitudes da cidadania. Através dela se formam redes de formadores de opinião,
que criam cenários antecipados dos efeitos positivos e negativos de determinadas
políticas e projetos. O formador de opinião serve à administração pública como o
ombudsman serve aos grandes jornais para apontar seus deslizes e manter sua
credibilidade. Mas são poucos os administradores que estão antenados a eles.
No caso de Salvador, as análises feitas por Ângelo Serpa, Ana Fernandes,
Lourenço Mueller, este escriba e outros, em jornais e redes sociais, se ouvidas
poderiam ter evitado desgastes políticos, como ocorreu com o fracassado
“shopping a céu aberto” do Pelourinho, a barreira férrea da Paralela e o
sambódromo Farol/Ondina. Alguns, como eu, sugerem alternativas mais simples e
baratas que podem render mais votos que viadutos e elevados de grande impacto
negativo e funcionalidade ilusória.
Recentemente a prefeitura recuperou a rótula dos Reis Católicos com flores,
quadras de esporte e boa iluminação. Logo a comunidade se apropriou aquele
espaço. Essa praça e a Mirian Fraga projetadas pela velha guarda arquitetônica
são, ao meu ver, as melhores da atual administração, por promoverem a integração
social. Melhores que as dos pós-urbanistas que trocaram o meio-fio clássico de
Pompeia e Herculano pela paliçada paleolítica para conter o estouro da manada
automotiva. Não há como compartilhar o galinheiro com as raposas.
Num sonho vi crianças brincando e namorados numa grande rótula arborizada, com
quadras de esporte, no entroncamento das avenidas Juracy Magalhães Jr e ACM.
Rótula que articulava aquelas duas vias de vale e as ladeiras de Santa Cruz,
Cruz da Redenção e Candeal. As rotulas são pontos de decisão e acesso ao
contrário dos viadutos, que são vias fechadas unidirecionais. Ónibus expressos
rodavam em terra, em uma via exclusiva monitorada por câmaras, parando em
abrigos e não em caixotões aéreos, como os do Metrô. Acordei com o barulho de
batidas de latas e protestos contra o corte de arvores para a passagem do BRT
aéreo. Pois é, as redes sociais estão transformando a população antes passiva em
militância cidadã, que não espera acontecer, vai à luta.
SSA: A Tarde, de 06/05/18