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“Pra não dizer que não falei de flores”

  • 06 de Maio de 2018

Os políticos ainda não perceberam a revolução provocada pela informática nas atitudes da cidadania. Através dela se formam redes de formadores de opinião, que criam cenários antecipados dos efeitos positivos e negativos de determinadas políticas e projetos. O formador de opinião serve à administração pública como o ombudsman serve aos grandes jornais para apontar seus deslizes e manter sua credibilidade. Mas são poucos os administradores que estão antenados a eles.

No caso de Salvador, as análises feitas por Ângelo Serpa, Ana Fernandes, Lourenço Mueller, este escriba e outros, em jornais e redes sociais, se ouvidas poderiam ter evitado desgastes políticos, como ocorreu com o fracassado “shopping a céu aberto” do Pelourinho, a barreira férrea da Paralela e o sambódromo Farol/Ondina. Alguns, como eu, sugerem alternativas mais simples e baratas que podem render mais votos que viadutos e elevados de grande impacto negativo e funcionalidade ilusória.

Recentemente a prefeitura recuperou a rótula dos Reis Católicos com flores, quadras de esporte e boa iluminação. Logo a comunidade se apropriou aquele espaço. Essa praça e a Mirian Fraga projetadas pela velha guarda arquitetônica são, ao meu ver, as melhores da atual administração, por promoverem a integração social. Melhores que as dos pós-urbanistas que trocaram o meio-fio clássico de Pompeia e Herculano pela paliçada paleolítica para conter o estouro da manada automotiva. Não há como compartilhar o galinheiro com as raposas.

Num sonho vi crianças brincando e namorados numa grande rótula arborizada, com quadras de esporte, no entroncamento das avenidas Juracy Magalhães Jr e ACM. Rótula que articulava aquelas duas vias de vale e as ladeiras de Santa Cruz, Cruz da Redenção e Candeal. As rotulas são pontos de decisão e acesso ao contrário dos viadutos, que são vias fechadas unidirecionais. Ónibus expressos rodavam em terra, em uma via exclusiva monitorada por câmaras, parando em abrigos e não em caixotões aéreos, como os do Metrô. Acordei com o barulho de batidas de latas e protestos contra o corte de arvores para a passagem do BRT aéreo. Pois é, as redes sociais estão transformando a população antes passiva em militância cidadã, que não espera acontecer, vai à luta.

SSA: A Tarde, de 06/05/18


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