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Os Estados Confederados do Sul

  • 20 de Maio de 2018

O francês Jacques Lambert mostrou no livro Os dois Brasis, que não somos um país, senão dois: um rico e urbano e outro pobre, agrário e escravagista. Essa divisão se tornou mais gritante a partir do início do século passado com a industrialização e urbanização. A diferença está associada à tradição patriarcal e escravista do Norteste e a imigração europeia e japonesa no Sul, que empreendeu uma revolução agrícola e industrial. O fato é os índices de desenvolvimento humano dessas duas regiões são muito desiguais. Meio século depois, nada mudou.

A hegemonia econômica do Sul é também política. Na República Velha, os presidentes, seguindo a tradição do Império, eram de origem portuguesa. Com a Revolução de 30, que inaugura a República Nova, a grande maioria dos presidentes são das regiões Sul e Centro-Sul. Do Rio Grande do Sul saíram seis: Vargas (2x), Goulart, Costa e Silva, Médici e Geisel. O Rio nos deu dois: Figueiredo e Fernando Henrique. De Minas vieram dois: Kubitschek e Dilma (RS). O sobrenome de muitos deles denuncia sua origem imigratória: Vargas (espanhola), Kubitscheck (checa), Goulart (açoriana), Médici (italiana), Geisel (alemã), Franco (italiana), Rousseff (búlgara) e Temer (libanesa). As regiões Norte e Nordeste foram contempladas com apenas quatro nomes: Castelo Branco, imposto pela ditadura, O vice Sarney herdeiro de Tancredo Neves, Collor que renunciou e Lula. Os orientais, negros, índios e mestiços foram excluídos.

O regime político consolidou a hegemonia do Sul e a marginalização do Norte e Nordeste. Desde 1930 até hoje são 83 anos nos quais 36 foram de ditaduras ou governos eleitos indiretamente: 15 da era Vargas e 21 dos militares. Neste período tivemos 21 presidentes, excluídos aqueles de transição e curta duração. Oito eram militares: Vargas, Dutra, Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo e Juscelino (polícia militar), ou seja, durante 39 anos fomos governados por militares (26) e vice-presidentes tampões (13), que caíram de paraquedas: Café Filho, Goulart, Sarney, Itamar e Temer

Apenas oito presidentes foram eleitos pelo povo: Dutra (militar), Vargas (1951-54), que se suicidou, Juscelino que morreu em acidente suspeito, Jânio Quadros e Collor de Melo que renunciaram sob pressão, FHC, Lula da Silva, que está preso e Dilma que sofreu impeachment. Este é o quadro da chamada democracia brasileira. Sem o nordestino no páreo, corremos o risco de sermos governados por Bolsonaro, il dulce.

O alto escalão da Justiça é também dominado pelo Sul Maravilha. Vejamos a composição do STF atual. Dos 11 ministros, quatro são de São Paulo, quatro do Rio, dois gaúchos, um mineiro. Quatro têm sobrenomes europeus: Toffoli, Fux, Fachin e Weber. Será que precisaremos ter uma guerra civil sangrenta como nos EUA para termos de fato uma União e acabarmos com os coronéis e a servidão?

SSA: A Tarde de 20/05/18


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