Artigos de Jornal
Os Estados Confederados do Sul
O francês Jacques Lambert mostrou no livro Os dois Brasis, que não somos um
país, senão dois: um rico e urbano e outro pobre, agrário e escravagista. Essa
divisão se tornou mais gritante a partir do início do século passado com a
industrialização e urbanização. A diferença está associada à tradição patriarcal
e escravista do Norteste e a imigração europeia e japonesa no Sul, que
empreendeu uma revolução agrícola e industrial. O fato é os índices de
desenvolvimento humano dessas duas regiões são muito desiguais. Meio século
depois, nada mudou.
A hegemonia econômica do Sul é também política. Na República Velha, os
presidentes, seguindo a tradição do Império, eram de origem portuguesa. Com a
Revolução de 30, que inaugura a República Nova, a grande maioria dos presidentes
são das regiões Sul e Centro-Sul. Do Rio Grande do Sul saíram seis: Vargas (2x),
Goulart, Costa e Silva, Médici e Geisel. O Rio nos deu dois: Figueiredo e
Fernando Henrique. De Minas vieram dois: Kubitschek e Dilma (RS). O sobrenome de
muitos deles denuncia sua origem imigratória: Vargas (espanhola), Kubitscheck
(checa), Goulart (açoriana), Médici (italiana), Geisel (alemã), Franco
(italiana), Rousseff (búlgara) e Temer (libanesa). As regiões Norte e Nordeste
foram contempladas com apenas quatro nomes: Castelo Branco, imposto pela
ditadura, O vice Sarney herdeiro de Tancredo Neves, Collor que renunciou e Lula.
Os orientais, negros, índios e mestiços foram excluídos.
O regime político consolidou a hegemonia do Sul e a marginalização do Norte e
Nordeste. Desde 1930 até hoje são 83 anos nos quais 36 foram de ditaduras ou
governos eleitos indiretamente: 15 da era Vargas e 21 dos militares. Neste
período tivemos 21 presidentes, excluídos aqueles de transição e curta duração.
Oito eram militares: Vargas, Dutra, Castelo Branco, Costa e Silva, Médici,
Geisel, Figueiredo e Juscelino (polícia militar), ou seja, durante 39 anos fomos
governados por militares (26) e vice-presidentes tampões (13), que caíram de
paraquedas: Café Filho, Goulart, Sarney, Itamar e Temer
Apenas oito presidentes foram eleitos pelo povo: Dutra (militar), Vargas
(1951-54), que se suicidou, Juscelino que morreu em acidente suspeito, Jânio
Quadros e Collor de Melo que renunciaram sob pressão, FHC, Lula da Silva, que
está preso e Dilma que sofreu impeachment. Este é o quadro da chamada democracia
brasileira. Sem o nordestino no páreo, corremos o risco de sermos governados por
Bolsonaro, il dulce.
O alto escalão da Justiça é também dominado pelo Sul Maravilha. Vejamos a
composição do STF atual. Dos 11 ministros, quatro são de São Paulo, quatro do
Rio, dois gaúchos, um mineiro. Quatro têm sobrenomes europeus: Toffoli, Fux,
Fachin e Weber. Será que precisaremos ter uma guerra civil sangrenta como nos
EUA para termos de fato uma União e acabarmos com os coronéis e a servidão?
SSA: A Tarde de 20/05/18