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O interesse econômico em primeiro lugar

  • 24 de Fevereiro de 2019

Num espaço de 15 dias duas tragédias inconcebíveis de incúria de seus responsáveis mataram centenas de pessoas, inclusive 10 adolescentes. Sobre Brumadinho, o New York Times escreveu: “reservatório básico de lixo de mineração construído a baixo custo, assentado acima de uma grande cidade”. Sobre o Centro de Treinamento do Flamengo poderíamos dizer: “cafua de lata e lixo plástico para jovens atletas”. Nesses dois exemplos de “cassetes armados” - não tenho outro termo para classificar essas arapucas - prevaleceu o econômico sobre as vidas humanas e o meio ambiente.

Em 30/07/2017, após o incêndio de uma torre de apartamentos para baixa renda em Londres, a Grenfell Tower, com fachadas de vidro e poliuretano, que matou 70 pessoas, escrevi neste jornal “O perigo nosso de cada dia”, em que afirmava: “A construção tradicional utilizava materiais incombustíveis, como tijolos, concreto, cerâmicas e mármores. Esses materiais estão sendo substituídos por plástico e vidro nas fachadas e divisórias de gesso e MDF, que não barram o fogo. Os pisos de vinil, carpetes e forros acústicos são rastilhos de fogo. Para piorar, esses materiais ao se queimarem exalam gases tóxicos”.

Mais adiante acrescentava: “Há também erros de projeto, como escadas contínuas, sem iluminação natural, saídas infra-dimensionadas e mal localizados e portas que não se abrem para fora. Deve- se a esses erros a tragédia da boate Kiss em Santa Maria, RS, que matou 242 jovens. Os nossos shoppings são campânulas de monóxido de carbono, sem alarmes automáticos nem sinalização de escape. Seus cinemas são garrafões com uma única saída, contra todas as normas”.

As conclusões preliminares do incêndio do CT do Flamengo confirmam o que eu dizia há um ano e meio atrás e repetem o que foi apurado em Santa Maria, em 2013. Até agora ninguém foi condenado, como também no caso de Mariana, que foi classificado como um “acidente natural”. Em Brumadinho e no Urubu o mesmo jogo de empurra entre a direção da Vale e Tuv Sud que se diz pressionada a atestar a segurança das barragens e no Rio, entre o Flamengo e a construtora da cafua: bla, bla, bla...

O Governo Federal estuda mudar as normas do FGTS para permitir que as vítimas da Vale possam se auto-indenizarem por ser um acidente não exatamente “natural”, mas “ambiental”. Minas é hoje um campo minado. O Estado e prefeituras da região de Mariana e Brumadinho são complacentes com a Vale para não perderem os minguados royalties de uma mineração ambientalmente insustentável. Famílias que não dormem ameaçadas de morte temem perder seus empregos. Assumir esta servidão é uma tragédia maior que as de Mariana e Brumadinho, que podem se repetir, e o mais grave, na terra dos Inconfidentes Mineiros que deram o primeiro grito contra a exploração dos colonizadores.

SSA: A Tarde, 24/02/2019


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