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Chê Porto Alegre

  • 01 de Dezembro de 2019

Estive em outubro em Porto Alegre e pude curtir a cidade graças a dois sobrinhos que moram ali. A cidade não sofreu a reforma urbana radical de Salvador na década de 1970, que a desestruturou e não conseguiu criar um novo centro, só um nó no Iguatemi. Nisso consiste o grande diferencial entre as duas cidades. Porto Alegre mantém uma centralidade urbana forte estruturada em volta ao Parque Farroupilha com 32 ha, 16 vezes o Campo Grande. Dentro dele está o Auditório Araujo Vianna com 3.000 assentos, onde se realizam os grandes eventos culturais, sociais e políticos. Em seu extenso perímetro ocorre, aos domingos, a imensa Feira do Brique de artes, artesanatos e antiquários, que demonstra a força da economia criativa local.

A maioria das faculdades da UFRGS se concentra em pequenos campi especializados no centro da cidade. O seu Hospital de Clinicas ocupa toda uma quadra com pavilhões enormes e moderníssimos. A Santa Casa de Misericórdia tem sete hospitais. Toda a excelente infraestrutura de saúde e educação se deve ao fato do Rio Grande do Sul ser o berço de oito presidentes e um deles, Getulio Vargas, ter reinado por 19 anos. A Bahia nunca fez um presidente.

A cidade conserva um belo conjunto fragmentado de arquitetura neoclássica e revival, coisa rara em nossas cidades, obra de requintados arquitetos, artesãos e operários oriundos de suas duas maiores comunidades: italiana e alemã. Seus dois mais importantes filhos, o poeta Mário Quintana e o pintor Iberê Camargo, têm casas de cultura à sua altura: o antigo Hotel Magestic e o belo museu do luso Álvaro Siza.

Porto Alegre compensa a falta de praias com muitos parques. Além do Farroupilha, tem o Moinhos de Vento ou Parcão, Germânia, Jardim Botânico e a floresta do Country Club (50 ha). Suas ruas são arborizadas, com passeios largos e sem passarelas que privilegiam os carros. Alguns cruzamentos são em túneis, mas viadutos só na saída da cidade. Sua relação com a água é diversa da nossa. Foi inaugurado recentemente um grande parque com bares e restaurantes junto ao abandonado Gasômetro, projeto do urbanista Jaime Lerner, onde o povo vai curtir o pôr do sol sobre as águas do Guaíba. Porto Alegre é a cabeça de uma extensa região metropolitana conurbada com grandes cidades como Gravataí, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Viamão e PIB de R$140 bilhões.

Mas a cidade padece dos males de todas as cidades brasileiras: insegurança, condomínios fechados, informalidade e favelas. Com a crise econômica e déficit fiscal o velho sonho emancipacionista dos farroupilhas recrudesceu. Na rua e nas churrascarias vi muita gente com camisas com o logotipo do movimento. Um velho médico me disse que o Rio Grande se limita com o Uruguai, Argentina e Brasil. Um sonho que pode virar pesadelo.

SSA: A Tarde, 1º/12/2019


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