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Habemus Plano Diretor !
Mas que Plano Diretor? O que foi aprovado pela Câmara de Vereadores nos
estertores de 2007 pode ser chamado de tudo, menos de Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano. Todo o processo de elaboração, audiências públicas e
votação foi viciado. O que era ruim no Projeto de Lei de 2004 ficou pior no de
2007 e virou um caos na versão remendada pelos vereadores. Os remendos são
casuísticos e incongruentes. Os únicos interesses que permeiam a quase
totalidade das emendas são imobiliários. O grande número de emendas apresentados
por uns poucos vereadores demonstra, claramente, os interesses em jogo.
O Município abriu mão de grande parte da outorga onerosa e do diferencial entre
o CAB e o CAM, fontes essenciais de recursos para infra-estruturação da cidade,
em beneficio dos agentes imobiliários e dos posseiros de Transcon. Este
instrumento, que deveria ser uma mola na preservação de sítios patrimoniais ou
naturais se transformou, em Salvador, em instrumento da especulação imobiliária
e desgoverno da cidade, sem nenhum controle da sociedade.
O adensamento propiciado pela nova lei só vai piorar a qualidade de vida urbana,
pela ocupação de áreas verdes, colapso da infra-estrutura instalada, destruição
da paisagem natural e construída, criação de barreiras de concreto que criarão,
inevitavelmente, ilhas de calor. Uma das emendas mais nocivas à cidade é a de
número 249, que aumenta o gabarito do Comercio em três pavimentos, impedindo a
visão da cidade alta para a Baia de Todos os Santos. Teremos que pegar o carro
ou o ônibus se quisermos ver o mar.
O que está acontecendo em Salvador contrasta com o que ocorre em outras
capitais. Em Pernambuco, os municípios de Recife e Olinda se juntaram aos
Governos Estadual e Federal, à iniciativa privada e às organizações sociais para
a implantação do "Complexo Turístico e Cultural Recife/Olinda", que prevê
desenvolvimento socioeconômico daquela região metropolitana com base,
fundamentalmente, em seu enorme acervo e produção cultural, como fazem as
principais capitais européias. Um projeto que vem sendo trabalhado e negociado
desde 2001, que foi aprovado de forma lisa e transparente, para transformar
Recife/Olinda, nos próximos anos, se Salvador não se mexer, na melhor metrópole
do Nordeste. Os pernambucanos sabem que uma metrópole que não for uma usina de
criação e inovação está morta no mundo globalizado. O nosso PDDU ignora,
solenemente, a rica cultura soteropolitana.
O Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento da Bahia, vai continuar
lutando com outras instituições de classe, associações de bairro e de moradores
pela derrubada do PDDU-2007 e pela elaboração de um projeto participativo de
futuro para a Região Metropolitana de Salvador, que contemple os interesses de
toda a comunidade e não apenas de setores caducos e míopes, que acreditam poder
crescer numa cidade cada vez mais dividida, violenta, congestionada, insalubre e
feia.
SSA: A Tarde, 06/01/2000