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A “Corte” se desnuda perante a Nação
A divulgação do vídeo da reunião da Corte de 22/04 não revelou nada alem do
que já haviam dito Moro, Bolsonaro e AGU. Mas o vídeo teve um papel político
importante, mostrou como funciona o desgoverno atual: falta de objetivos,
desprezo pela vida, agressões às autoridades, ameaças de defenestrações,
propostas de pegadinhas, supostas conspirações e muitos palavrões. A mídia tem
feito analogia entre a situação atual com o conto de Hans Christian Anderson “A
roupa nova do imperador”, em que uma criança, alheia à cegueira dos seus
súditos, grita, “o rei está nu !” e todos recuperam a visão. Sim, a Corte está
nua, mas continuamos a viver o “Ensaio sobre a cegueira”.
A maioria das 25 autoridades presentes estava visivelmente constrangida durante
a reunião em que Bolsonaro, que se crê Luiz XIV - “Eu sou a Constituição” -
bradou “eu posso tirar qualquer ministro, salvo o Guedes”. Atônitas com as
humilhações e palavrões, elas permaneceram passivas, com exceção de alguns
desvergonhados. A frase do presidente é a chave para compreender sua submissão
ao neoliberalismo e aos interesses internacionais, com os dogmas da diminuição
do estado e dos programas sociais, cuja falência ficou comprovada nos países que
mais o dotaram, EUA e a Inglaterra, durante o tsunami de mortes pela Covid-19.
Alguns trechos do vídeo não foram divulgados pela Globo arrependida, como a
meteórica referência, sem eco, do ministro Teich, “O breve”, à Covid-19 e as
denuncias ridículas da vidente Damares, de que a oposição está contaminando os
índios e conta o “pacto com o diabo” proposto por seu colega de Turismo de abrir
os cassinos. Anunciou que vai processar e prender governadores que estão
atentando contra os direitos humanos praticando o isolamento social.
As ameaças de Weintraub e as pegadinhas de Salles são tão ignóbeis que não
merecem consideração. Mas uma de Guedes é patética: “tem que vender logo essa
porra” referindo-se ao Banco do Brasil, criado por D. João VI, em 1808, quando o
Brasil deixou de ser colônia e se transformou em metrópole. A nação de maior
estabilidade financeira contemporânea, a Alemanha, que resistiu à alta do
petróleo no período 1970/80, à reunificação em 1990, à crise financeira de 2008
e à recessão atual, deve sua estabilidade aos bancos públicos, que financiam não
só os grandes grupos, mas principalmente os pequenos e médios negócios, que
geram milhões de empregos em sua política de economia social de mercado.
São bancos públicos, como o BB, a CEF e BNDES, que sempre financiaram o
desenvolvimento do país e que estão amenizando os efeitos perversos da pandemia,
não só aqui como em todo o mundo, que ele quer vender para bancos estrangeiros.
Estamos voltando à ser colônia. Num ponto o presidente tem toda a razão, o barco
está fazendo água!
SSA: A Tarde, 31/05/2020