Artigos de Jornal
Subserviência ridícula
Logo após a II Guerra Mundial o general Eisenhower visitou o Brasil e o
Congresso e foi ali saudado pelo então deputado federal Octávio Mangabeira.
Quando o general estendeu a mão para agradecer, Mangabeira se ajoelhou e beijou
sua mão. A mídia fez uma farra. Nosso ex-governador tentou se explicar dizendo
que o fizera porque o general livrou o mundo do horror nazista. Em 1964, Juracy
Magalhães ao chegar aos EUA como ministro de relações exteriores do país
pronunciou uma frase que ficou célebre: “O que é bom para os EE.UU. é bom para o
Brasil”. Até a linha dura criticou a subserviência. Complexo de vira-lata de
membros menores do governo.
Na abertura da Assembleia da ONU, ano passado, o nosso presidente saudou Trump
com “I love you”, ao que o ianque surpreso o cortou em inglês: “Bom te ver de
novo”. Bandeiras dos EUA e de Israel foram desfraldadas por apoiadores de
Bolsonaro durante sua campanha e em manifestações após a eleição. No ultimo dia
três, o presidente, do alto da rampa do Palácio do Planalto, dando apoio a uma
manifestação que pedia o fechamento do Congresso, do STF e a volta do AI-5, se
fazia acompanhar da “família real”, que portava um mastro com as bandeiras do
Brasil, de Israel e dos EUA, dos mesmos tamanhos.
Imagine o escândalo que seria se os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, um
nobre que se crê gaulês, se apresentasse no mesmo local com o genro portando as
bandeiras do país e da Revolução Francesa, ou Michel Temer, descendente de
prestamistas libaneses, repetisse a dose com a bandeira do Líbano. Isso bastaria
para um pedido de impeachment por falta de decoro presidencial.
Segundo a Lei Federal Nº 5.700/71 os símbolos do Brasil são, hierarquicamente, a
Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional
(carinbo). Será que os bolsonaristas querem colocar mais uma estrela na bandeira
americana? O símbolo americano não surpreende, já que a política externa do
presidente é uma caricatura da ianque e ele entregou a base de Alcântara em
troco de nada, coisa que nem Getulio fez por três anos em Natal, durante a II
Guerra.
Mas o que significa a estrela de David? A comunidade judaica brasileira
protestou contra o uso de bandeira de Israel em manifestações antidemocráticas.
A explicação é simples, o lobby da Igreja Universal, um dos maiores apoiadores
do presidente, quer transformar o país em uma republica teocrática com base na
lei messiânica, coisa que não ocorre nem em Israel. Bolsonaro tem repetido que
quer um membro “terrivelmente evangélico” no Supremo Tribunal Federal sendo o
estado, pela Constituição, laico. O que estamos esperando? O medo da pandemia
não pode ser o preço de perdermos os dois maiores valores de uma nação, a
soberania e a democracia.
SSA: A Tarde, 17/05/2020