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Subserviência ridícula

  • 17 de Maio de 2020

Logo após a II Guerra Mundial o general Eisenhower visitou o Brasil e o Congresso e foi ali saudado pelo então deputado federal Octávio Mangabeira. Quando o general estendeu a mão para agradecer, Mangabeira se ajoelhou e beijou sua mão. A mídia fez uma farra. Nosso ex-governador tentou se explicar dizendo que o fizera porque o general livrou o mundo do horror nazista. Em 1964, Juracy Magalhães ao chegar aos EUA como ministro de relações exteriores do país pronunciou uma frase que ficou célebre: “O que é bom para os EE.UU. é bom para o Brasil”. Até a linha dura criticou a subserviência. Complexo de vira-lata de membros menores do governo.

Na abertura da Assembleia da ONU, ano passado, o nosso presidente saudou Trump com “I love you”, ao que o ianque surpreso o cortou em inglês: “Bom te ver de novo”. Bandeiras dos EUA e de Israel foram desfraldadas por apoiadores de Bolsonaro durante sua campanha e em manifestações após a eleição. No ultimo dia três, o presidente, do alto da rampa do Palácio do Planalto, dando apoio a uma manifestação que pedia o fechamento do Congresso, do STF e a volta do AI-5, se fazia acompanhar da “família real”, que portava um mastro com as bandeiras do Brasil, de Israel e dos EUA, dos mesmos tamanhos.

Imagine o escândalo que seria se os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, um nobre que se crê gaulês, se apresentasse no mesmo local com o genro portando as bandeiras do país e da Revolução Francesa, ou Michel Temer, descendente de prestamistas libaneses, repetisse a dose com a bandeira do Líbano. Isso bastaria para um pedido de impeachment por falta de decoro presidencial.

Segundo a Lei Federal Nº 5.700/71 os símbolos do Brasil são, hierarquicamente, a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional (carinbo). Será que os bolsonaristas querem colocar mais uma estrela na bandeira americana? O símbolo americano não surpreende, já que a política externa do presidente é uma caricatura da ianque e ele entregou a base de Alcântara em troco de nada, coisa que nem Getulio fez por três anos em Natal, durante a II Guerra.

Mas o que significa a estrela de David? A comunidade judaica brasileira protestou contra o uso de bandeira de Israel em manifestações antidemocráticas. A explicação é simples, o lobby da Igreja Universal, um dos maiores apoiadores do presidente, quer transformar o país em uma republica teocrática com base na lei messiânica, coisa que não ocorre nem em Israel. Bolsonaro tem repetido que quer um membro “terrivelmente evangélico” no Supremo Tribunal Federal sendo o estado, pela Constituição, laico. O que estamos esperando? O medo da pandemia não pode ser o preço de perdermos os dois maiores valores de uma nação, a soberania e a democracia.

SSA: A Tarde, 17/05/2020


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