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A tragédia nacional anunciada

  • 03 de Maio de 2020

Desgovernado, o Brasil marcha para um tsunami sanitário, social e econômico sem precedentes. A OMS e ingleses apontam o Brasil como o país que terá um número de mortes igual ou superior aos dos EUA, que já perderam 64.000 vidas. A subnotificação é escandalosa, como atestam os cartórios e os cemitérios. Até Trump, arquiamigo de Bolsonaro, zeloso pelos interesses americanos, se diz preocupado com a situação do Brasil, que não segue a política de seus vizinhos. De janeiro de 2019 até hoje o real se desvalorizou 36% com relação ao dólar. É a moeda que mais perdeu com a pandemia.

O maior foco de contaminação do coronavírus são as filas perversas nas agencias da Caixa Econômica, para atualizar o CPF e receber meio salário mínimo, para a vacinação de influenza e a superlotação dos ônibus, metrôs e barcas. Salário mínimo que não dá para a cesta básica de uma família, imaginem a metade! Mães com bebês no colo sob o sol ou com os pés dentro d’água passam a noite na rua. Pessoa se espremendo para entrarem no metrô, no ônibus ou na barca. Por que isso? Porque os concessionários desses serviços não querem perder dinheiro com menor lotação de seus veículos. Para atendê-los, estados e municípios mandam reduzir a frota à metade. Enquanto isso, se testa e vacina a classe média em drive-thrus.

Não se devia, durante a tragédia, tentar regularizar CPF porque os dados do cartão não coincidem com os do FGTS ou o portador não votou. Para aqueles que não têm CPF e escolaridade não é possível que se exija que preencham um formulário de quatro folhas num celular ou computador. O pagamento do auxilio de fome poderia ser feito através de toda a rede bancaria e não apenas na Caixa e lotéricas. Os bancos privados adorariam poder ter essas pessoas como seus clientes residuais.

Nas favelas lideres comunitários se organizam para prover com doações alimentos, higiene e assistência sanitária a seus pares, já que o estado não faz nada por eles. Alguns empresários, a maioria de multinacionais, fazem doações em dinheiro, ovos de páscoa, álcool e sabonete, que a Globo promove como Solidariedade/SA. Mas eles continuarão doando durante uma pandemia que pode durar meses?

Enquanto isso, Bolsonaro diz rindo que não pode fazer milagres, zombando dos mortos e das famílias, em meio a crise afasta ministros que ameaçam sua reeleição e afronta o STF. O novo Ministro da Saúde, empresário de sucesso, alinhado com o presidente, analisa o fim do isolamento e diz que é um desperdiço comprar respiradores que ficarão ociosos depois da pandemia. Guedes diz que vai recuperar a economia com capitais privados, que estão em crise mundial. Nunca forami tão atuais as palavras de Marco T. Cícero, há 2000 anos: “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós a tua loucura?”

SSA: A Tarde, 03/05/2020


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