Artigos de Jornal
A tragédia nacional anunciada
Desgovernado, o Brasil marcha para um tsunami sanitário, social e econômico
sem precedentes. A OMS e ingleses apontam o Brasil como o país que terá um
número de mortes igual ou superior aos dos EUA, que já perderam 64.000 vidas. A
subnotificação é escandalosa, como atestam os cartórios e os cemitérios. Até
Trump, arquiamigo de Bolsonaro, zeloso pelos interesses americanos, se diz
preocupado com a situação do Brasil, que não segue a política de seus vizinhos.
De janeiro de 2019 até hoje o real se desvalorizou 36% com relação ao dólar. É a
moeda que mais perdeu com a pandemia.
O maior foco de contaminação do coronavírus são as filas perversas nas agencias
da Caixa Econômica, para atualizar o CPF e receber meio salário mínimo, para a
vacinação de influenza e a superlotação dos ônibus, metrôs e barcas. Salário
mínimo que não dá para a cesta básica de uma família, imaginem a metade! Mães
com bebês no colo sob o sol ou com os pés dentro d’água passam a noite na rua.
Pessoa se espremendo para entrarem no metrô, no ônibus ou na barca. Por que
isso? Porque os concessionários desses serviços não querem perder dinheiro com
menor lotação de seus veículos. Para atendê-los, estados e municípios mandam
reduzir a frota à metade. Enquanto isso, se testa e vacina a classe média em
drive-thrus.
Não se devia, durante a tragédia, tentar regularizar CPF porque os dados do
cartão não coincidem com os do FGTS ou o portador não votou. Para aqueles que
não têm CPF e escolaridade não é possível que se exija que preencham um
formulário de quatro folhas num celular ou computador. O pagamento do auxilio de
fome poderia ser feito através de toda a rede bancaria e não apenas na Caixa e
lotéricas. Os bancos privados adorariam poder ter essas pessoas como seus
clientes residuais.
Nas favelas lideres comunitários se organizam para prover com doações alimentos,
higiene e assistência sanitária a seus pares, já que o estado não faz nada por
eles. Alguns empresários, a maioria de multinacionais, fazem doações em
dinheiro, ovos de páscoa, álcool e sabonete, que a Globo promove como
Solidariedade/SA. Mas eles continuarão doando durante uma pandemia que pode
durar meses?
Enquanto isso, Bolsonaro diz rindo que não pode fazer milagres, zombando dos
mortos e das famílias, em meio a crise afasta ministros que ameaçam sua
reeleição e afronta o STF. O novo Ministro da Saúde, empresário de sucesso,
alinhado com o presidente, analisa o fim do isolamento e diz que é um desperdiço
comprar respiradores que ficarão ociosos depois da pandemia. Guedes diz que vai
recuperar a economia com capitais privados, que estão em crise mundial. Nunca
forami tão atuais as palavras de Marco T. Cícero, há 2000 anos: “Até quando,
Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de
nós a tua loucura?”
SSA: A Tarde, 03/05/2020