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Respondendo a meus leitores

  • 19 de Abril de 2020

Meu artigo de 05/04/20 em A Tarde sobre a desindustrialização do país provocou um amplo debate no Facebook. Recebi apoios e algumas contestações. Só posso responder às últimas.

Ecles Lisboa levanta algumas questões. Zerar impostos, inclusive de produtos que não fabricamos desestimula sua produção interna e investimentos externos. Guedes não representa o setor produtivo, que cria empregos, senão financeiro, que ganha o mesmo importando ou exportando. Ele sabe dos impactos dos acordos de comércio e por isso quer gradual. Abrir mais o que? Importamos desde meias a carros de luxo. Todos os organismos internacionais constatam que o livre-comércio aumentou a distancia entre ricos e pobres e deflagrou migrações massivas do Oriente Médio para a Europa, da América Central para os EUA.

China, Correia do Norte e Cingapura, que haviam feito investimentos enormes em educação, alta tecnologia e infraestrutura, pularam na frente dos EUA que defendiam o livre-comércio. A briga hoje é da alta tecnologia: EUA X China, Reino Unido X União Europeia, Rússia X Arábia Saudita. O desafio não vem mais do Norte, mas do Leste. Os EUA adotam sobretaxas e cotas e nós continuamos a pensar como o Chile de 1970, que implodiu. A desindustrialização do país começou em 1990, mas o corte da pesquisa por Guedes, a venda da Embraer e a entrega da base de Alcântara sem transferência de tecnologia acentuam mais a nossa dependência e descompasso mundial. O abandono da política externa multilateral, do Acordo de Paris, o desmatamento da Amazônia e os ataques à China, nosso maior comprador, só aumentam o nosso isolamento. Algumas reformas são necessárias, mas não incrementarão a nossa competitividade, não criarão empregos, nem desativarão a bomba social.

Dirceu Romani observa que em todo mundo só se vê produtos da China, Vietnã, Sri Lanka e Bangladesh. É verdade, os ricos não querem mais produzir, só especular nas bolsas. A pandemia está mostrando o desastre dessa dependência nos EUA, Europa e Brasil.

Meu amigo Lito Passos afirma: “A indústria nacional acaba devido ao excesso de proteção e a falta de produtividade do trabalhador brasileiro” e faz uma caricatura dos nossos operários. Simples assim? A nossa indústria está acabando porque não tem apoio oficial, tecnologia competitiva e infraestrutura, portos, ferrovias, cabotagem, e a concorrência não regulamentada dos orientais. Conheço bem o setor da construção, a maior indústria do país, e as péssimas condições de trabalho, segurança, treinamento e remuneração dos trabalhadores. O que ele fazem é um milagre. O absenteísmo é alto pela falta de saneamento e o desmonte do SUS: dengue, zika e chicongunha.

Adorei a síntese do artista e meu ex-aluno Jamison Pedra Prazeres: “Voltamos aos tempos de exportar látex e importar chiclete, exportar cacau e comprar chocolate”.

SSA: A Tarde, 19/04/2020


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