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A Covid-19 e o sucateamento industrial

  • 05 de Abril de 2020

A industrialização do país arrancou durante a II Guerra, sem a concorrência internacional. Até 1989 tinhamos uma política de substituição de importações e desenvolvimento, com a fundação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, em 1952, e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, CADE, em 1962. A partir de Collor aderimos ao neoliberalismo da Escola de Chicago com a abertura indiscriminada das importações.

Grandes empresas estatais, de serviços públicos e privadas foram adquiridas pelo capital internacional a preços de banana. A Vale foi vendida por R$3,3 bilhões, ou duas Coelbas. E o que é mais grave, essas alienações foram aprovadas pelo CADE e financiadas pelo BNDES. Importamos hoje, não só produtos de luxo e alta tecnologia, como até artesanato: vestiário, sombrinhas, brinquedos e verduras congeladas. A nossa ultima grande indústria foi comprada pela Boeing.

Na década de 1970 a indústria ocupava 30% da mão de obra brasileira e hoje, menos de 10%. Segundo o Instituto de Estudos de Desenvolvimento IndustriaI, que rastreou a economia de 30 países nos últimos 50 anos, o Brasil é o terceiro colocado em desindustrialização. Em 2016, a ONU advertia que o Brasil estava em processo de desindutrialização precoce e acelerado.

Com as nossas favelas vamos ter, provavelmente, mais infectados pela Convid-19 que a Itália e os EUA e não fabricamos testes, mascaras, luvas, óculos e macacões em escala industrial como necessitam os médicos. Basta comparar a blindagem dos colegas da China e da Europa com os aventais de nossos abnegados kamikase que atacam a peste. Na Itália 80 médicos já morreram. Não fabricamos respiradores, nem podemos obrigar a GM e a Ford a produzi-los, porque não são nacionais. Tudo deve ser importado.

De Gaulle dizia que toda empresa que por natureza é monopolista devia ser estatal. A próxima empresa a ser leiloada por Guedes é a Eletrobrás, que controla toda a energia do país. Nos EUA a Enron foi um desastre. Vamos pagar a luz em função do valor do Kw mundial e variação do dólar, como já fazemos com o petróleo do pré-sal, o etanol e as carnes que produzimos.

Estamos voltando à condição colonial. Mas naquela época a Metrópole exportava produtos nobres: ouro e açúcar, que chegou a ser presente de príncipes. Hoje exportamos comodites sem valor agregado: minério de ferro, óleo cru, soja, café e carnes. Com os novos acordos comerciais vamos vender comodities com taxa zero para os ricos transformarem em produtos de alto valor, que serão importados sem impostos. Quando Trump viu que os EUA estavam sendo invadidos pelos produtos orientais, abandonou o livre-comércio e impôs cotas, sobretaxas e intervenções em empresas. Em 2019, o nosso governo zerou a taxa de importação de 2.300 produtos. Em plena quarta revolução industrial voltamos a era pré-industrial e à dependência colonial.

SSA: A Tarde, de 05/04/2020


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