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A maldição das pestes e pandemias
Antes da revolução agrícola, que viabilizou a urbanização da humanidade, as
pestes eram raras, porque a população era rarefeita e os mortos deixados para
trás. Com a maior produção de alimentos aumentou a população humana e de
roedores transmissores das pestes, com a população mundial oscilando em ciclo de
sanfona. Hipócrates, há 2.400 anos, dizia que a doença mais comum na época era a
“peste branca”, ou tísica. Mas a primeira grande pandemia conhecida foi a “peste
negra” surgida na Mongólia, que seguindo a rota da seda entrou na Europa pela
Itália.
Estima-se que entre 1346 e 1353 ela matou 30% da população da Eurásia. Uma de
suas variantes era a peste bubônica transmitida pelos ratos e pulgas e a outra a
peste pneumônica transmitida pelo ar. A população mundial estimada em 450
milhões baixou para 350 a 375 milhões e só voltou aos níveis anteriores no
século XVII.
Outra grande pandemia aconteceu na América a partir de 1492. A população nativa
estimada em 46 milhões foi reduzida a 8 milhões em 1650. Cerca de 25 milhões de
astecas e 12 milhões de Incas morreram, não só pelas atrocidades dos
conquistadores, como principalmente por doenças transmitidas por eles: varíola,
sarampo, gripe, peste bubônica, papeira e febre amarela. A reposição da
população indígena na America Espanhola só ocorreu no final do século XIX. No
Brasil, segundo a FUNAI, existiam três milhões de índios em 1500 que foram
reduzidos para 700 mil em 1650 e 70 mil em 1957. Foram dizimados pelas doenças
dos brancos, pela fome, com sua expulsão da Mata Atlântica e pelos Ávilas e
bandeirantes. A partir da década de 1980 a população indígena voltou a crescer e
segundo o censo de 2010 eles somavam 818 mil naquela data.
Entre 1849 e 1928 a febre amarela matou 60.000 pessoas no Brasil. Na presidência
de Rodrigues Alves, entre 1902 e 1906, tivemos o primeiro plano de saúde
nacional bolado por Oswaldo Cruz, que reduziu as mortes pela febre e varíola no
principal foco do país, o Rio de Janeiro, a quatro. Mas entre 1928 e 1929 a
peste voltou ao país.
A próxima grande pandemia foi a chamada “gripe espanhola” ou “influenza”
(janeiro de 1918 a dezembro de 1920), que surgiu nos EUA com sintomas
semelhantes ao Covid-19, e contaminou 500 milhões e matou cerca de 50 milhões de
pessoas em todo o mundo. No Brasil teria enterrado 35 mil pessoas: 12.700 no Rio
e 6.000 em São Paulo. Como sempre a pandemia foi manipulada ideologicamente.
Para os cristãos era o apocalipse, para os astrólogos a passagem de três cometas
e para outros uma arma bacteriológica da I Grande Guerra. Durante a “peste
negra”, a maldição foi atribuída aos judeus e pobres. Hoje a pandemia está sendo
associada à guerra geopolítica e à falência dos sistemas previdenciários
mundiais só matando velhos.
No Brasil, o Covid-19 está servindo para encobrir a explosão de mortes pela
dengue, zika e chikungunya na falta de um Rodrigues Alves. Nos EUA Trump, em
campanha eleitoral, encobre a pandemia na Florida, que contaminou 22 membros da
comitiva Bolsonaro que foi lhe beijar a mão, mentindo e dizendo que só o
prefeito de Miami foi contaminado pelos brasileiros.
SSA: A Tarde, 22/03/2020