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A Bahia e a morte anunciada da Petrobrá
Foi na Bahia que se quebrou a cisma que no Brasil não havia petróleo, graças à luta do geólogo Oscar Cordeiro, em 1937, em Lobato, onde o povo acendia tochas com uma lama preta. Ele comprou uma sonda velha e provou que ali jorrava petróleo, embora não fosse viável comercialmente. Dois anos depois, em 1941, o Conselho Nacional de Petróleo perfurou, em Candeias, o primeiro poço de produção comercial de petróleo do país. A criação da Petrobrás, em 1953, resultante da campanha nacional “O petróleo é nosso”, teve como um de seus protagonistas o baiano Rômulo Almeida. Na Bahia se construiu a primeira refinaria brasileira, graças ao empenho de Landulfo Alves. Até 1965 todo o petróleo produzido no Brasil vinha da Bahia. Foi com esses recursos, experiencia e muita pesquisa que a Petrobrás conseguiu desenvolver a mais alta tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas, que resultou na descoberta do pré-sal, em 2006.
Mas o generoso presidente FHC resolveu compartilhar a nossa riqueza com as nações amigas. Hoje, 39,5 % dos dividendos da Petrobrás vão para o exterior. Mas não bastava isso. Em 2017, Temer pressionou o Congresso a aprovar a isenção de impostos às empresas estrangeiras na exploração do pré-sal durante 25 anos, um mimo de um trilhão de reais. Por último, o STF, depois de aconselhado pelo ministro Paulo Guedes e o advogado do governo, André Mendonça, decidiu que empresas-mães estatais, como a Petrobras, Eletrobrás e Banco do Brasil podem vender suas subsidiárias, inclusive refinarias, sem aval do Congresso, nem licitação.
Perguntem a Rockfeller e a Shell se uma empresa de petróleo pode sobreviver sem sua frota de petroleiros, sem oleodutos. gasodutos e a distribuidora de seus produtos, que é um dos elos mais importantes da cadeia produtiva e única que dá visualidade a empresa? Na produção de um livro, o editor paga direitos autorais, revisão, diagramação, programação visual, papel e impressão e o distribuidor fica com 50%. O mesmo fazem as galerias de arte com pintores e gravadores. Hoje, todas as potencias industriais são protecionistas e nós condenados a ser sempre exportadores de comodities sem nenhum valor agregado. O Brasil não pode ficar “deitado eternamente em berço esplendido” a ver navios. Vender as subsidiarias é mutilar as empresas-mães para vende-las, mais tarde, por inviáveis.
Petróleo e energia são peças fundamentais da soberania nacional e não podem ser alienadas por problemas de caixa de uma administração. O mercado e o governo festejaram a decisão do STF, mas o povo lamenta com Cazuza: “Não me convidaram para esta festa pobre/ Que os homens armaram para me convencer/...Brasil, mostra a sua cara/ Quero ver quem paga para a gente ficar assim/ Brasil qual é o seu negócio?/ O nome de seu sócio?”
SSA: A Tarde, 16/06/2019