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Leonardo da Vinci baixa em Salvador

  • 25 de Agosto de 2019

Filho bastardo de uma camponesa, deserdado, sem educação formal, pintor de pouco sucesso, canhoto que escrevia de trás para frente e descriminado por ser homossexual e violar cadáveres, Leonardo da Vinci tinha tudo para ser um fracasso, mas foi uma zebra. Quinhentos anos depois de sua morte, o mundo inteiro se curva para homenageá-lo como o maior gênio da humanidade. O retrato de uma jovem com um sorriso maroto sobre todos nós, La Gioconda ou Mona Lisa, eclipsou o cientista, o anatomista, o engenheiro, o arquiteto e o inventor genial.

Foi sua falta de educação formal, com suas falsas explicações sobre tudo, e uma curiosidade sem limites, que o transformou num dos fundadores da ciência moderna, com Galileu, Copérnico e Bacon, baseada na observação dos fenômenos naturais e não na dedução, como faziam os gregos. Ele analisou o voo das aves, o comportamento dos fluidos e os segredos do corpo humano, sendo o fundador da anatomia, origem da cirurgia moderna, desafiando o Vaticano.

Leonardo utilizou o desenho para projetar máquinas e aparelhos para o homem melhor trabalhar, navegar, mergulhar, voar e se defender. Não se tem notícia de maquetes, da época, de suas invenções. Mas seus desenhos eram tão cientificamente corretos e inovadores que seriam realizados alguns séculos depois. Ele estava tão avançado para sua época que praticamente só um de seus projetos foi executado em vida, a bela escadaria em hélice e contra-hélice do palácio Chambord, na França.

Leonardo foi o mais brilhante dos muitos gênios do Renascimento, que colocaram o homem no centro do universo inaugurando a Modernidade e desbancando o teocentrismo medieval. Gênios como Michelangelo e Maquiavel, que denunciou que o poder dos monarcas não era dado por Deus, senão emanava das artimanhas do príncipe. Comemorar o maior gênio do Renascimento é lutar contra o obscurantismo do terraplanismo e do criacionismo dos gurus e falsos filósofos, que se dizem pós-modernos. A terra é redonda, mas com eles está ficando chata.

Italianos e franceses se digladiam para organizarem a maior exposição de sua obra. Mas sua arte e invenções são universais. Leonardo mostrou que razão e emoção não são incompatíveis, mas complementares. Seu grande sonho era ver o homem voar. Ele projetou o paraquedas, a asa delta, o planador humano (wingsuit) e o helicóptero. Seu sonho só foi realizado quatro séculos depois por um brasileiro, Santos Dumont.

Depois de amanhã, dia 27, será inaugurada no Palacete das Artes a mais importante exposição sobre Leonardo da Vinci no Brasil. O também engenheiro Thales de Azevedo Filho, apaixonado pela obra do gênio, deu terceira dimensão, movimento e vida a 55 desenhos de máquinas de Leonardo, para mostrar aos jovens baianos que a educação se faz com vividas redescobertas e não com a decoreba.

SSA: A Tarde, 25/08/2019


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