Artigos de Jornal
Metrô, mais do mesmo
Alguns leitores me perguntam o que é metrô em trincheira a que me referi no
meu ultimo artigo neste jornal. O colega José Guilherme Cunha me recordou que há
dois anos eu escrevi o artigo “Final feliz na Paralela” e agora aparentemente
mudei de opinião. Expliquei que continuo defendendo o modal sobre trilho, seja
ele o VLT, veiculo leve sobre trilho, um transporte limpo, silencioso, amigável
que dispensa alambrados e corre sobre tapetes gramados, como na Europa, ou o
metrô, quando a demanda de passageiros é maior.
Louvei a decisão do estado de optar pelo metrô na Paralela enfrentando o lobby
da Setps, que fez tudo para implantar o BRT, na sigla inglesa bus rapid transit,
sistema alias brasileiríssimo inventado por Jaime Lerner quando prefeito de
Curitiba, há 50 anos. Sou contra aquele sistema por ser poluente e temer o
monopólio do transporte público pela Setps e a possibilidade real de lockout.
Para alimentação da linha tronco do metrô preferia o VLT, mas me pareceu uma
solução politica a adoção do BRT, que poderá ser implantado mais rápido e
convertido mais tarde em VLT, dai considerar um final feliz.
Expliquei ao colega que havia metrôs e pseudo-metrôs. Este meio de transporte
urbano surgido há 150 anos em Londres, para driblar o congestionamento da grande
metrópole, usava a tecnologia das minas de carvão e era sinônimo de tube,
underground e subway. Temos na Paralela uma condição excepcional para a
implantação de um verdadeiro underground por um custo baratíssimo comparado com
metrôs que passam por debaixo de quarteirões ou maciços rochosos, como em São
Paulo e no Rio.
A solução natural para a Paralela é a abertura de uma trincheira ao longo de sua
trajetória recoberta por uma laje de concreto com a recomposição do jardim sobre
a mesma ou implantação de ciclovia. Com isso se dispensaria uma serie de
custosos viadutos e passarelas e teríamos um canteiro central livre. A
alternativa adotada, uma ferrovia correndo entre muros e alambrados, é uma
barreira por onde não passa nem cachorro dividindo a cidade ao meio e destruindo
o canteiro central. É um antimetrô, que não liga, senão separa e segrega, que
aumenta o congestionamento em suas bordas e polui sonora e visualmente. É este
monstrinho ultrapassado que acaba de ser licitado com um só competidor.
A ativação da Linha 1 e a construção da Linha 2 estão orçadas em R$ 3,7 bilhões
dos quais a União, que enfrenta recessão e inflação, entraria com R$1,28
bilhões, mais R$ 700 milhões para levar a Linha 1 até Cajazeiras, e o estado com
R$1,00 bilhão mais R$130 milhões anuais a titulo de subsidio durante todo o
prazo de concessão, 30 anos. O restante seria investido pela Companhia de
Participações em Concessões – CPC vencedora da licitação de uma nota só.
Acontece que a CPC é controlada pelo grupo Companhia de Concessão Rodoviária –
CCR cujo braço construtor é a associação Camargo Correia - Andrade Gutierrez,
responsável pelo metrô manco de Salvador, que foi reduzido à metade, teve seu
custo dobrado e se arrasta há 13 anos sem funcionar.
As construtoras são alvo de ações do Ministério Publico Federal na Bahia, do
Tribunal de Contas da União por suposto superfaturamento de R$400 milhões nas
obras da Linha 1 e ainda estão envolvidas no escândalo de irregularidades nos
metrôs de São Paulo e Brasília investigado pelo Conselho Administrativo de
Defesa Econômica - Cade.
Por outro lado, duas mega-construtoras baianas analisaram as condições da
concessão e chegaram a conclusão que o projeto é inviável economicamente,
desistindo de concorrer. Onde o estado, com um contingenciamento de R$315
milhões, irá buscar sua cota de R$ 1,00 bilhão?
Nasce assim o novo metrô da RMS sob uma nuvem de dúvidas, com um projeto
urbanístico e de engenharia absurdo, suspeição de inviabilidade econômica e
financeira e possíveis pendencias na justiça. E tudo isso sem nenhuma audiência
publica como manda a lei. O Governo tem 60 dias para firmar o contrato ou anular
a licitação e fazer a coisa certa, já que o metrô não será inaugurado na Copa.
SSA: A Tarde, 01/09/2013