Artigos de Jornal
Muito concreto e pouca racionalidade
Salvador virou um canteiro de obras que lembra Berlin depois da reunificação.
Salvador dividida ainda não foi reunificada e temo que estas obras fiquem
inconclusas com a crise que se avizinha. Deixo a futurologia para os economistas
e vou direto à concepção dessas obras. Um ex-aluno meu, arquiteto, me perguntou
por que as obras públicas do Rio, São Paulo Recife, Belém e Manaus têm melhor
qualidade que as de Salvador, embora feita pelas mesmas empreiteiras baianas?
Procuro responder, mas ele me atropela.
- O Maracanã foi apenas reciclado e continua com o ginásio de esportes, piscinas
e sua identidade. Na Fonte Nova tudo foi destruído. Onde era o Balbininho e as
duas piscinas agora é estacionamento, reserva para futuros shoppings e espigões
da concessionaria. No Rio e São Paulo minhocões estão sendo implodidos, aqui se
constrói novos, como a dita Via Expressa, que detonou tudo por onde passou e
chega à BR 324 e ao Cabula de forma atabalhoada.
Ele pergunta: a orla da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi planejada com
torres espaçadas, que não impedem a ventilação e a visão do mar. Aqui está sendo
seguido o mesmo critério? Por que a linha 2 do metrô vai acabar com o parque
linear da Paralela se em São Paulo, Rio e Brasília eles são acabaram com as
áreas verdes e servem aos centros das cidades? Por que os centros antigos de
Belém, Manaus e Recife são cuidados, têm programação cultural e atraem turistas,
e o daqui está escorado, depois de tanto investimento? Por que o Centro de
Convenções está desativado e se pretende construir um novo?
Tento explicar que naquelas cidades há uma tradição de planejamento. Nossas
obras são desarticuladas, projetadas pelas empreiteiras e pelo setor
imobiliário. Se essas obras fossem planejadas de forma técnica e integrada
custariam muito menos, funcionariam muito melhor, e não criariam problemas
futuros. O estádio da Fonte Nova bastaria ser adaptado às normas da FIFA, como o
Maracanã. Agora sua concessão está sendo contestado pelo TCE. Na Paralela seria
melhor um BRT compatível com a demanda local. O metrô seria mais viável onde se
pretende fazer a Linha Viva, uma rodovia pedagiada para automóveis, que não têm
lugar na cidade futura.
O centro histórico e o Comércio, ao invés de esvaziado de funções e habitantes,
deveria ser requalificado com novas funções, como fizeram Recife e Belém. O VLT,
que querem fazer ente o Comercio e Paripe, estaria melhor na Av. 29 de Março
para alimentar o metrô. Os trilhos da antiga Ferrovia Leste Brasileiro deveriam
ser melhorados para a implantação de um trem veloz metropolitano, indo até Feira
de Santana. VLT é um bonde moderno, amigável, que não precisa de plataforma
elevada de embarque e convive com ônibus, carros e pedestre. Não faz sentido
colocá-lo em uma faixa exclusiva, que corre na beira do mar. Se estendido até a
Conceição da Praia ele vai enfrentar o transito local e será impossível
sistematizar os horários.
Estas são questões que merecem uma reflexão. Se quisermos superar a crise
teremos de mudar de atitude, adotar o planejamento, racionalizar os processos e
cortar os desperdícios. Crise pode ser oportunidade, não necessariamente o fim.
SSA: A Tarde, 01/02/2015