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Muito concreto e pouca racionalidade

  • 01 de Fevereiro de 2015

Salvador virou um canteiro de obras que lembra Berlin depois da reunificação. Salvador dividida ainda não foi reunificada e temo que estas obras fiquem inconclusas com a crise que se avizinha. Deixo a futurologia para os economistas e vou direto à concepção dessas obras. Um ex-aluno meu, arquiteto, me perguntou por que as obras públicas do Rio, São Paulo Recife, Belém e Manaus têm melhor qualidade que as de Salvador, embora feita pelas mesmas empreiteiras baianas? Procuro responder, mas ele me atropela.

- O Maracanã foi apenas reciclado e continua com o ginásio de esportes, piscinas e sua identidade. Na Fonte Nova tudo foi destruído. Onde era o Balbininho e as duas piscinas agora é estacionamento, reserva para futuros shoppings e espigões da concessionaria. No Rio e São Paulo minhocões estão sendo implodidos, aqui se constrói novos, como a dita Via Expressa, que detonou tudo por onde passou e chega à BR 324 e ao Cabula de forma atabalhoada.

Ele pergunta: a orla da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi planejada com torres espaçadas, que não impedem a ventilação e a visão do mar. Aqui está sendo seguido o mesmo critério? Por que a linha 2 do metrô vai acabar com o parque linear da Paralela se em São Paulo, Rio e Brasília eles são acabaram com as áreas verdes e servem aos centros das cidades? Por que os centros antigos de Belém, Manaus e Recife são cuidados, têm programação cultural e atraem turistas, e o daqui está escorado, depois de tanto investimento? Por que o Centro de Convenções está desativado e se pretende construir um novo?

Tento explicar que naquelas cidades há uma tradição de planejamento. Nossas obras são desarticuladas, projetadas pelas empreiteiras e pelo setor imobiliário. Se essas obras fossem planejadas de forma técnica e integrada custariam muito menos, funcionariam muito melhor, e não criariam problemas futuros. O estádio da Fonte Nova bastaria ser adaptado às normas da FIFA, como o Maracanã. Agora sua concessão está sendo contestado pelo TCE. Na Paralela seria melhor um BRT compatível com a demanda local. O metrô seria mais viável onde se pretende fazer a Linha Viva, uma rodovia pedagiada para automóveis, que não têm lugar na cidade futura.

O centro histórico e o Comércio, ao invés de esvaziado de funções e habitantes, deveria ser requalificado com novas funções, como fizeram Recife e Belém. O VLT, que querem fazer ente o Comercio e Paripe, estaria melhor na Av. 29 de Março para alimentar o metrô. Os trilhos da antiga Ferrovia Leste Brasileiro deveriam ser melhorados para a implantação de um trem veloz metropolitano, indo até Feira de Santana. VLT é um bonde moderno, amigável, que não precisa de plataforma elevada de embarque e convive com ônibus, carros e pedestre. Não faz sentido colocá-lo em uma faixa exclusiva, que corre na beira do mar. Se estendido até a Conceição da Praia ele vai enfrentar o transito local e será impossível sistematizar os horários.

Estas são questões que merecem uma reflexão. Se quisermos superar a crise teremos de mudar de atitude, adotar o planejamento, racionalizar os processos e cortar os desperdícios. Crise pode ser oportunidade, não necessariamente o fim.

SSA: A Tarde, 01/02/2015


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