Artigos de Jornal
A industria na Bahia
A Bahia nasceu industrial. Durante quatro séculos a província viveu e sustentou, em parte, a colônia com a agroindústria açucareira, uma das primeiras empresas multinacionais, com capitais flamengos, tecnologia italiana, mão de obra africana, logística portuguesa e distribuição holandesa. Empresa capitalista que ressuscitou a escravatura abolida na Antiguidade. O que resta das usinas de açúcar e manufaturas de charutos?
O segundo ciclo foi o da indústria têxtil. Pioneiramente fundado em 1844, com a fábrica Todos os Santos, em Valença, de Antonio Francisco de Lacerda e sócios, que começou com 100 operários. Uma segunda na mesma cidade, N. S. do Amparo, fundada em 1860, por Bernardino de Sena Madureira, seria depois incorporada pelos Irmãos Lacerda. Em 1870, é criada a São Brás, em Plataforma, comprada em 1932 por Bernardo Martins Catharino. Porém a mais importante foi a Empório Industrial do Norte, em Salvador, criada, em 1891, por um filho de uma ex-escrava, Luís Tarquínio. Inspirado em ideais socialistas, ele criou a primeira cooperativa e vila operária do Império, em 1911, com 258 casas, creche, escola, biblioteca e museu. Animado por essa experiência, o prefeito de Valença, Eng. Raoul Malbouisson, criou em 1919 uma vila operária com 166 casas, praça e escola. Hoje tudo ruína.
O terceiro ciclo foi o do petróleo e derivados, iniciado em 1950 com a Relan. O dinheiro na praça estimulou outras indústrias, como Equipetrol, cristais e bebidas Fratelli Vita, elevadores Amoedo, carrocerias Incabasa, Cimento Aratu, Cesmel-estuturas metálicas, televisores Telematic, Céramus, painéis de madeira Madepan e Novopan, móveis Ralf, calçados Mirca, Opalma e Sambra de óleos vegetais, Alimba, Chadler e Cravo, de leite, chocolate e café. Só restou a Relan, desativada. Por iniciativa de Rômulo Almeida, aproveitando incentivos da Sudene, foi criado em 1968 o Centro Industrial de Aratu, onde foram instaladas as siderúrgicas Usiba, Ferbasa e Engesa e as multinacionais Magirus Deutz, Cummins, Bosch, Alcan, Dow-TDI, Xerox, Stepan e Latapack. Na RMS se instalaram a Rhodia, Du Pont, Semp-Toshiba, Papaiz e Bombril, tristemente inventariadas por meu irmão, Eng. Thales de Azevedo Filho.
Em 21/07/2019, o jornal Correio da Bahia publicou: “Mato, cachorros e lixo substituem fábricas no CIA”. Segundo o IBGE, a participação industrial na economia baiana baixou de 42,3% para 23,7%, entre 1985 e 2016. A falta de política industrial permitiu que se instalassem fábricas altamente poluentes como a Cobrac (chumbo) e Bacraft (papel), em S. Amaro, Titanium e Sibra (ferro/manganês), na RMS. O fechamento unilateral e intempestivo do complexo da Ford, que recebeu terreno, financiamento e isenções, é o último capítulo do contumaz “laissez faire” e falta de política industrial no Estado, que vem sendo suplantado por estados menores, como Rio, Minas, Paraná, RGS e S. Catarina.