Artigos de Jornal
O interminável ciclo de golpes
Com este título, Le Monde Diplomatique, de janeiro passado, trouxe artigo de Frederico Rochaferreira que descreve dez deles, que começaram em 1889, quando o marechal Deodoro da Fonseca derrubou Pedro II, golpe conhecido como Proclamação da Republica, até 2016, quando um complô político-militar-judiciario derrubou a presidente Dilma. Dois desses golpes deram lugar a longas ditaduras e a maioria dos restantes, a governos de militares.
O fenômeno não é só brasileiro, é Latino-Americano. Libertamo-nos de Portugal e Espanha, mas caímos numa independência tutelada: do Big Stick, de reiteradas cacetadas na América Central e Caribe, da Operação Condor, com intervenções no Chile, Brasil, Argentina e Uruguai, ou disfarçadas de Boa Vizinhança, Aliança para o Progresso e ALCA. Intervenções executadas por militares e grupos locais, sócios dos interessados. Em consequência, temos que nos conformar em sermos economias dependentes, produtores de commodities e proibidos de nos desenvolver, para não incomodá-lo. A usina Angra 3, tem 30 anos fazendo obras civis, a base de Alcântara explodiu misteriosamente e acaba de ser entregue aos EUA, Petrobrás e Embraer foram espionadas e o pré sal entregue às multinacionais.
Ex-colônias pobres britânicas, como a Índia e o Paquistão, têm hoje armas de dissuasão atômica. A Índia, que na década de 70 estava no mesmo patamar de pesquisa espacial do Brasil, já mandou duas sondas à Lua (2008 e 2020) e uma a Marte (2014). A agência indiana ISRO realizou 75 missões espaciais e lançou 51 satélites estrangeiros. Para nos vacinar dependemos do IFA de chineses, indianos e russos. Será que teremos que esperar a queda do Império para nos libertarmos e desenvolver?
A direita ofereceu, pelas redes sociais, à classe média desalentada o advento de um Messias terraplanista e “trumpista” e o elegeu. Agora, percebendo seu desgoverno, tenta substituí-lo por um general e se realinhar com Biden. Prega que “tudo deve mudar para que tudo fique como está” (Lampeduza). Para evitar o impeachment, o mito alugou o Centrão insaciável com um afago de três bilhões de reais nossos. Como ele não confia em mais ninguém, só lhe resta se apresentar no reality show da Globo montado em motos e jet skis fingindo que comanda a máquina.
Não creio em mudança no Brasil com o Presidencialismo de Coalizão, que pressupõe união de duas forças divergentes: presidência e coalizão partidária, com eleições do mandatário e do parlamento desvinculadas, ao contrario do que ocorre no parlamentarismo e nos EUA. Presidencialismo sem poder real descamba para o populismo e a coalizão é o acordo entre partidos em torno de ocupação de cargos públicos e alianças entre forças políticas para deter o poder e vantagens, dificilmente em torno de ideias ou programas. Nisso reside o desgoverno e o lesa-pátria.