Artigos de Jornal
Cheiro de diesel no ar
Não pretendo discutir aqui as propriedades físicas e químicas do diesel, senão de dissuasão deste óleo que explode espontaneamente quando atinge uma determinada pressão em motores e chauffeurs de caminhões e ônibus. Apesar de ele ter sido glamorizado e transformado em grife de jeans, bolsas, relógios e perfumes caríssimos, continua sendo mal cheiroso e inflamável, podendo explodir. No Brasil temos três milhões de caminhões e ônibus consumindo 140 bilhões de litros do óleo, na maior parte importado.
Em 2018, o diesel provocou um incêndio que durou 10 dias, bloqueou estradas e parou 24 estados e o DF. A falta de transporte provocou o desabastecimento, redução dos “bozús” urbanos e voos, suspensão de aulas e serviços e provocou filas enormes nos postos de gasolina, que passaram a leiloar a gasolina. Cinco cidades do RGS decretaram calamidade pública e outras cidades de quatro estados, entre elas, São Paulo e Porto Alegre, entraram em estado de emergência.
As ações da Petrobras despencaram, a empresa perdeu 137 bilhões de reais em valor de mercado e o governo de Michael Temer perigou. A situação só melhorou com a concessão de muitas vantagens aos caminhoneiros, tabelamento dos fretes e intervenção das Forças Armadas e Polícia Rodoviária Federal, criando um precedente muito perigoso. É bom lembrar que uma greve semelhante no Chile, cativo do caminhão como o Brasil, derrubou o governo de Salvador Allende, em 1973, e deflagrou uma das mais duras ditaduras, durante 17 anos.
As empresas de “buzús” estão falidas e os caminhoneiros voltaram a discutir o diesel, com o Governo Federal pressionando os estados, já fragilizados, a diminuírem o ICMS. Paliativo temporário, pois é inevitável a subida do preço do petróleo com a política anti gás de xisto de Biden e desvalorização progressiva do real. Nesta semana, a Petrobras aumentou em 15% o preço do diesel seguindo a cotação internacional. Uma greve agora, como a de 2018, em plena pandemia, pode provocar um incêndio político e econômico que o centrão não conseguirá apagar. A fala do Ministro da Infraestrutura dizendo que os caminhoneiros precisam desmamar do governo, só aumentou a tensão chegando muito próximo ao ponto de combustão espontânea. Há poucas semanas o centrão mamou três bilhões de reais pra eleger os presidentes do Congresso.
Em muitos países os governos diminuem o preço do diesel e aumentam o da gasolina, compensatoriamente, visando desencorajar o uso do carro privado. No Brasil com a privatização da BR Distribuidora é muito difícil adotar essa prática inteligente, agravada pela política de exportar o cru e importar derivados a peso de ouro. Cuidado, o diesel pode se alastrar no subsolo e explodir espontaneamente.
“Devagar com o andor, porque o ‘santo’ é de barro!”