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Planejar ou regredir, eis a questão
Passamos de 262 mil mortes pelo coronavirus, recorde só batido pelos EUA. Este dado contrasta com o baixíssimo desempenho da vacinação. Esta tragédia poderia ser reduzida se tivéssemos planejamento. Não temos capacidade de fabricar as vacinas e o Ministério da Saúde não as comprou com antecedência, nem previu a falta de oxigênio em Manaus e trocou o Amapá por Manaus. Estes fatos demonstram o caos do planejamento no país.
Os planos foram introduzidos no Brasil em 1930 por Vargas, para enfrentar a crise do café com a quebra da bolsa de NY. O Plano Especial teve sucesso parcial, por não contemplar o social, mas foi ampliado nos anos 40 com as missões ianques Taub e Cooke. Seguiu-se o Plano SALTE, de Dultra. Juscelino lançou o Programa de Metas (30) de “Cinquenta anos em cinco“. No breve governo de Jango foi criado o Ministério do Planejamento e Celso Furtado elaborou o Plano Trienal com objetivos sociais, mas foi abortado pelo golpe de 1964. Os governos militares, não obstante a truculência, não abandonaram o planejamento, com os planos PAEG, Decenal, PED e 1º, 2º e 3º PND. Aos trancos e barrancos, o planejamento transformou o Brasil do “Café com Leite” em uma potencia industrial. Fabricávamos tudo.
Durante a década perdida de 80, o fracasso do 2º e 3º PND, dos planos Cruzado I e II, Bresser, Verão e Feijão com Arroz contribuíram para a descrença no planejamento. No Ocidental, o neoliberalismo impôs a redução do estado para beneficiar o mercado, aumentando a concentração de renda. Enquanto isto, China, Índia e Coreia do Sul, com planejamento estatal, se industrializam e viraram potências. A Covid-19 expos a dependência dos EUA dos produtos médicos desses países e do sistema privado de saúde, condenando à morte 500 mil pessoas.
Confirmando o que escrevi aqui em 24/01, o ex-embaixador Rubens Barbosa no artigo SOS Indústria, (Estadão, 22/02) mostra que em quatro décadas o país reduziu a participação da indústria no PIB de 26% para 11% e a produção de fármacos de 55% para 5%. Nos últimos seis anos, 17 indústrias fecham as portas a cada dia. Voltamos a ser um país “essencialmente agrícola”, enquanto importamos confecções e quinquilharias orientais e pedimos à Índia para lançar o nosso satélite.
Perdemos, em 1988, o nosso maior e último planejador econômico, Rômulo Almeida, idealizador da Chesf, da CPE, da Coelba, do CIA, do Copec, da Empreendimentos Bahia, da Sibra e da Clan, Consultoria e Planejamento. Se vivo, ele estaria lutando contra o desmonte burro do setor público. Iniciativas isoladas, como a Ford em Camaçari, estavam fadadas ao fracasso. O único órgão de planejamento do Estado, a Conder, fundada em 1967 para planejar a RMS, foi transformado por ACM em órgão apenas executor de obras. Como pode o Brasil e a Bahia se desenvolver sem planejamento?