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Jogos de guerra olímpicos

  • 08 de Agosto de 2021

As Olimpíadas tiveram origem no século VIII aC e serviam para dar unidade ao império grego. Jogos que foram ressuscitados em 1896 e passaram a ser realizados a cada quatro anos, a partir de 1924. Sua função também mudou com o tempo. Os jogos de 1936 na Alemanha tiveram caráter nitidamente racista, com os nazistas tentando mostrar a superioridade ariana sobre as demais etnias. Durante a guerra-fria, americanos e soviéticos travaram batalhas por medalhas nas Olimpíadas para mostrarem quem era mais forte. A guerra-fria está de volta. Disputas esportivas fazem parte de o chamado poder brando (soft power) e o resultado mais palpável dessa diplomacia ocorreu no Torneio Mundial de Pingue Pongue, de 1971, no Japão, quando os malvados chineses convidaram a delegação dos EUA para uma revanche em Pequim, autorizada imediatamente por Nixon, rompendo  a virtual cortina de bambu que separava os dois países.

Hoje, num mundo menos bipolar, os países lutam para levar o maior número de atletas para as Olimpíadas, como forma de conseguirem um lugar ao sol. O discreto desempenho do Brasil, entre os maiores países do mundo, decorre do pouco investimento que fazemos em esportes e da necessidade de exportarmos atletas e convocá-los na última hora para representar o país. Não se vê jogadores japoneses, chineses ou russos em times europeus ou americanos, como os nossos. Em países desenvolvidos, equipes olímpicas são treinadas durante pelo menos quatro anos.

São verdadeiros milagres que um surfista de Baia Formosa, no Nordeste, como Ítalo Ferreira, possa vencer um americano ou um japonês que treina em Honolulu, e uma ginasta da periferia de São Paulo, como Rebeca Andrade, possa ganhar medalhas de ouro e prata, quando suas competidoras têm patrocínio, regimes alimentares especiais e massagista para aliviar suas dores entre as apresentações. Louve-se o excepcional desempenho dos baianos. Hoje, as Olimpíadas seguem o paradigma da máquina mercante, que cobra de cada um o máximo de rendimento à custa de estresse e esforço sobre-humano. Os bastidores das Olimpíadas são nojentos: corrupção nas escolhas das sedes, assédio sexual de treinadores, doping e atletas tratados como animais de corrida, sob o chicote de seus jóqueis, para ganharem por una cabeza (Gardel).  

Para mim, as grandes vencedoras desta Olimpíada foram a americana Simone Biles ao denunciar corajosamente Não somos apenas atletas, somos pessoas[...] Há vida, além da ginástica, e a adolescente brasileira Rayssa Leal, que não ligou para o cronômetro e deu uma lição de infância, brincando sorridente com seu skate, como a Fadinha de Imperatriz. As duas foram as notas humanas desses embates lacrimosos e sem graça em coliseus desertos e inúteis, cujos investimentos poderiam ter salvado muitas vidas.


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